1 Esdras, também conhecido como Esdras grego, é um livro presente em algumas versões da Septuaginta e considerado deuterocanônico em tradições cristãs ortodoxas. A obra possui muitas semelhanças com o livro bíblico de Esdras do Antigo Testamento, mas apresenta diferenças estruturais e narrativas que o tornam único. Ele se concentra na restauração de Jerusalém após o exílio babilônico, destacando a reconstrução do Templo e a renovação espiritual do povo de Israel.
O texto começa relatando o fim do reinado de Josias e os eventos que levaram ao exílio da comunidade judaica. Em seguida, narra a libertação decretada por Ciro, rei da Pérsia, permitindo que os judeus retornassem à sua terra e reconstruíssem o Templo em Jerusalém. Essa parte da narrativa ressalta a ideia de que a restauração da vida religiosa era fundamental para a identidade nacional e espiritual de Israel.
Um dos trechos mais conhecidos de 1 Esdras é o episódio do concurso realizado entre três jovens da corte de Dario, que debatem qual força seria a mais poderosa: o vinho, o rei ou as mulheres. O vencedor do debate, Zorobabel, acrescenta ainda que a verdade supera todas as demais forças. Esse episódio, exclusivo deste livro, transmite uma reflexão moral e espiritual que ecoa a centralidade da verdade na vida religiosa.
O livro também detalha os desafios enfrentados durante a reconstrução do Templo. A oposição dos povos vizinhos, as dificuldades econômicas e a necessidade de reorganizar a vida comunitária são retratados como barreiras que exigiam fé e perseverança. Nesse contexto, líderes como Zorobabel e Esdras aparecem como figuras fundamentais na condução espiritual e administrativa do povo.
Assim como em outras narrativas bíblicas, a fidelidade à Lei ocupa papel central em 1 Esdras. O texto mostra que o retorno à terra prometida não bastava: era preciso também renovar o compromisso com os mandamentos divinos. Essa ênfase fortalece a mensagem de que a verdadeira restauração só seria completa se acompanhada de obediência e purificação moral.
A obra, embora paralela ao livro canônico de Esdras, oferece uma perspectiva ampliada e, em alguns pontos, distinta, acrescentando detalhes históricos e reflexões teológicas. Por isso, é vista como um testemunho importante sobre a tradição judaica helenística e sobre a forma como a fé era transmitida nas comunidades espalhadas fora de Jerusalém.
1 Esdras também desempenhou papel significativo no pensamento cristão primitivo. Sua presença na Septuaginta fez com que fosse utilizado por comunidades da Igreja primitiva, influenciando a formação da tradição cristã oriental. Apesar de não ser reconhecido no cânone hebraico, o livro continua a ter valor religioso, histórico e literário em diversas tradições.
No conjunto, 1 Esdras (Esdras grego) é uma obra que une história, moral e espiritualidade. Ele transmite a mensagem de que a restauração do povo de Deus exige não apenas reconstrução física, mas também renovação interior. Sua ênfase na verdade, na fidelidade e na força da fé confere ao livro um caráter atemporal e profundamente inspirador.