O Evangelho de Tomé é um texto apócrifo, ou seja, não incluído no cânone oficial da Bíblia, e é composto por 114 ditos atribuídos a Jesus. Ao contrário dos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e do Evangelho de João, o Evangelho de Tomé não narra eventos da vida de Jesus, mas é uma coleção de ensinamentos e parábolas. Este evangelho é considerado um dos mais importantes textos gnósticos, refletindo crenças e práticas da comunidade gnóstica dos primeiros séculos do cristianismo.
Os ditos no Evangelho de Tomé começam com uma introdução afirmando que são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu e que Dídimo Judas Tomé escreveu. O primeiro dito enfatiza a importância de encontrar a interpretação correta das palavras de Jesus, prometendo vida eterna àqueles que o fizerem.
Alguns ditos do Evangelho de Tomé são semelhantes aos encontrados nos Evangelhos canônicos. Por exemplo, o dito 9, a parábola do semeador, é quase idêntico ao relato encontrado em Marcos 4:3-8. Essa semelhança sugere uma origem comum ou uma influência mútua entre os textos.
Outros ditos apresentam ensinamentos únicos e enigmáticos. O dito 22, por exemplo, fala sobre a necessidade de tornar-se como crianças pequenas para entrar no Reino de Deus, uma ideia presente também nos Evangelhos canônicos, mas aqui com uma ênfase mística e transformadora.
O dito 77 é um dos mais famosos e místicos: “Rachai uma madeira, eu estou ali; levantai uma pedra, e me encontrareis lá.” Este dito sugere a presença divina em todas as coisas, refletindo uma visão panteísta ou uma profunda conexão espiritual com o mundo material.
Agnosticismo do Evangelho de Tomé é evidente em muitos ditos que destacam o conhecimento interno e a iluminação pessoal. O dito 3, por exemplo, enfatiza que o Reino de Deus está dentro e ao redor das pessoas, sugerindo uma busca espiritual interna em vez de externa.
Alguns ditos são paradoxais e desafiadores, como o dito 2: “Deixe o que procura continuar procurando até encontrar. Quando encontrar, ficará perturbado. Quando ficar perturbado, ficará maravilhado e reinará sobre tudo.” Esse dito reflete a jornada espiritual gnóstica de busca, desconstrução e iluminação.
Os ditos 17 e 18 falam de revelações e mistérios que Jesus prometeu a seus discípulos, indicando uma transmissão esotérica de conhecimento que é característica dos textos gnósticos. Esses ditos sugerem que nem todo conhecimento foi revelado publicamente e que alguns ensinamentos foram transmitidos apenas a um círculo íntimo de seguidores.
O tema da dualidade e da unidade aparece frequentemente. No dito 11, Jesus diz: “Este céu passará, e aquele que está acima dele passará. Os mortos não vivem, e os vivos não morrerão.” Isso indica uma transcendência do estado físico e uma união com o eterno.
A relação com os Evangelhos canônicos é complexa. Enquanto alguns estudiosos veem o Evangelho de Tomé como uma fonte independente e valiosa dos ensinamentos de Jesus, outros o consideram uma obra posterior influenciada pelos evangelhos sinóticos e pelo gnosticismo emergente.
O dito 113, que menciona o Reino de Deus como uma presença já existente mas invisível, ecoa a ideia de que a compreensão espiritual verdadeira revela uma realidade subjacente oculta à percepção comum. Isso reforça a visão gnóstica de um conhecimento secreto acessível apenas aos iniciados.
O Evangelho de Tomé não menciona a crucificação, ressurreição ou outros eventos centrais da narrativa cristã tradicional, concentrando-se exclusivamente nos ensinamentos de Jesus. Isso levou alguns estudiosos a sugerirem que ele representa uma tradição cristã diferente, possivelmente anterior aos evangelhos canônicos.
O papel de Tomé como autor é significativo, pois ele é frequentemente visto na tradição gnóstica como um discípulo que recebeu ensinamentos especiais de Jesus. Esse aspecto é reforçado pela ausência de uma narrativa estruturada, enfatizando a transmissão direta de sabedoria.
O Evangelho de Tomé é um texto fundamental para entender a diversidade do cristianismo primitivo e as diferentes interpretações dos ensinamentos de Jesus. Ele oferece uma visão alternativa e profundamente espiritual da mensagem de Jesus, focada na auto-descoberta e na iluminação interna.
Este evangelho continua a ser objeto de estudo e debate entre teólogos, historiadores e estudiosos da religião, que buscam compreender sua origem, contexto e impacto na formação do pensamento cristão.