O livro abre com uma chamada ao arrependimento e ao retorno de Deus, endereçada ao remanescente de Israel após o exílio. O profeta relata visões simbólicas que transmitem a mensagem de que Deus está em movimento para restaurar Jerusalém e o Templo – “Ele se lembra” do Seu povo. A reconstrução do Templo é apresentada não apenas como tarefa de engenharia, mas como sinal da presença de Deus entre Seu povo e da promessa de restauração nacional.
O núcleo profético inclui oito visões (capítulos 1‑6) numa mesma noite, com imagens como cavaleiros, chifres e artífices, linha de medição, o sumo‑sacerdote sendo purificado, o candelabro com duas oliveiras, rolo voador e mulher no cesto. Essas imagens expressam o juízo de Deus sobre os adversários de Israel e a renovação de Jerusalém como centro da presença divina.
Nos capítulos 7 e 8, Zacarias trata da vida comunitária dos retornados: ele critica jejum sem transformação moral, pergunta se devem continuar a lamentar acontecimentos passados ou abraçar a nova realidade. Ele assegura que dias de tristeza podem dar lugar a alegria, e que Deus restaurará o povo, mostrando‑lhes favor e fazendo‑os habitar em segurança e prosperidade.
Já os capítulos 9 a 14 entram em cenário mais apocalíptico: surgem oráculos contra nações, promessa de um rei‑servo humilde que entra em Jerusalém montado em jumento, previsão de purificação do povo, combate final, estabelecimento do domínio de Deus. A esperança messiânica e o futuro escatológico ganham evidência maior nessa parte.
Um tema central é que, embora o povo tenha negligenciado Deus e enfrentado julgamento, Ele permanece fiel e soberano: a restauração depende de arrependimento e fidelidade, e o Templo, o sacerdócio e a vida comunitária expressam essa fidelidade. A presença de Deus entre os governados significa que o antigo sistema (exílio, ruína) é superado.
Há rica interligação entre o simbólico e o concreto: o Templo é reconstruído fisicamente, mas simboliza a habitação de Deus; o sumo‑sacerdote purificado aponta para a restauração sacerdotal; o rei‑servo e as duas oliveiras apontam para o reinado e o Espírito de Deus operando. O livro combina esperança imediata para o remanescente pós‑exílio e visões de alcance universal.
Historicamente, o profeta Zacarias (filho de Berequias, neto de Iddo) atuou no período da volta do exílio babilônico, por volta de 520 a.C. sob Dario I. Contudo, muitos estudiosos apontam que os capítulos finais (9‑14) apresentam estilo e datação diferentes, sugerindo possível autoria posterior ou edição.
Em síntese, o Livro de Zacarias anuncia: arrependam‑se; Deus vai agir; reconstruam o Templo; preparem‑se para o futuro triunfo de Deus; confiem que Ele “lembra” do Seu povo e fará nova aliança de favor e glória. A mensagem transcende o contexto histórico imediato e aponta para o presente de fé e o futuro da humanidade sob Deus.