“Moisés e o Monoteísmo”, escrito por Sigmund Freud, é uma das obras mais provocativas do pai da psicanálise, onde ele explora a origem do monoteísmo e as raízes psicológicas da religião judaico-cristã. Freud apresenta a teoria de que Moisés, tradicionalmente considerado um líder judeu e fundador do judaísmo, teria sido, na verdade, um nobre egípcio e seguidor do faraó monoteísta Akhenaton. Segundo Freud, após a morte de Akhenaton, Moisés teria adotado a religião monoteísta e a transmitido ao povo hebreu, desempenhando um papel fundamental na formação do judaísmo.
A obra também discute a relação entre religião e repressão. Freud sugere que Moisés foi assassinado pelos próprios hebreus e que esse ato, reprimido no inconsciente coletivo do povo judeu, deu origem a sentimentos de culpa que teriam moldado o desenvolvimento do monoteísmo e influenciado o cristianismo. A teoria de Freud é uma adaptação de seu conceito de “memória reprimida”, aplicada à psique de um povo inteiro, e explora como o sentimento de culpa gerado por esse suposto crime originou importantes tradições religiosas.
Freud analisa, também, o conceito de “Pai Totêmico”, ou líder carismático, e como ele se reflete na adoração de um único Deus. Ao longo do livro, ele compara o relacionamento entre o homem e Deus ao vínculo entre pai e filho, sugerindo que a figura divina, em uma sociedade patriarcal, surge como uma projeção do pai na vida psíquica, funcionando tanto como protetor quanto como juiz. Este mecanismo psíquico, na visão de Freud, explica como a religião organiza as pulsões e os instintos humanos.
Além de explorar a gênese das crenças religiosas, Freud reflete sobre as implicações do monoteísmo para a cultura ocidental, argumentando que ele impôs uma ética moral rígida e influenciou a civilização ocidental ao instituir um sistema de valores baseado na obediência a uma autoridade divina. Isso, segundo Freud, ajudou a construir o aparato moral e psicológico que caracteriza a sociedade moderna.
“Moisés e o Monoteísmo” é uma obra rica e controversa, que sintetiza o pensamento freudiano sobre religião, história e cultura, levando o leitor a repensar as bases da fé e a influência das pulsões inconscientes sobre a espiritualidade e a moralidade humana.