“A Cidade e as Serras” é uma obra escrita pelo renomado autor português Eça de Queirós. Publicado em 1901, o romance oferece um contraste marcante entre a vida agitada e moderna de Paris e a tranquilidade da zona rural de Portugal, assim como uma crítica à industrialização e urbanização desenfreadas do final do século XIX.
A trama gira em torno de Jacinto, um jovem aristocrata que vive uma vida luxuosa e extravagante em Paris. Ele possui todas as comodidades modernas e tecnológicas, mas começa a se sentir entediado e desconectado da natureza e das comodidades da vida. Jacinto recebe a notícia de que uma propriedade rural, a Quinta de Tormes, situada em Portugal, foi deixada por um parente distante. A partir desse momento, o enredo se desenrola na contraposição entre o ambiente urbano e o rural, bem como nas reflexões de Jacinto sobre essas duas realidades.
Ao chegar à Quinta de Tormes, Jacinto experimenta uma transformação na sua perspectiva de vida. Ele redescobre a simplicidade, a beleza da natureza e a sensação de interação nas interações humanas. Esse contraste é especialmente notável em relação às previsões das inovações tecnológicas e da vida cosmopolita de Paris apresentadas na primeira parte do livro.
Além de sua abordagem sobre o choque entre o ambiente urbano e rural, a obra também faz alusões ao Brasil, especialmente por meio do personagem José Fernandes, um brasileiro que mora em Portugal e que compartilha histórias e perspectivas sobre o Brasil. Esses momentos proporcionaram uma visão indireta das relações culturais entre Portugal e o Brasil naquela época.
Eça de Queirós utiliza “A Cidade e as Serras” para explorar questões como a modernização, a industrialização, a busca por identidade e o equilíbrio entre o progresso tecnológico e a qualidade de vida. Ao longo da jornada de Jacinto, o autor oferece uma crítica perspicaz à superficialidade da vida urbana em comparação com a riqueza da experiência humana e da conexão com a natureza.
O contraste entre Paris e a Quinta de Tormes é um dos pilares da narrativa. Enquanto Paris é retratada como uma metrópole frenética, cheia de avanços tecnológicos e modernidades, a Quinta de Tormes representa uma realidade mais tranquila, conectada com a natureza e a tradição. Esse contraste não serve apenas para destacar as diferenças entre os dois ambientes, mas também para explorar como o ambiente influencia a psicologia e a qualidade de vida das pessoas.
Jacinto, o protagonista, passa por uma jornada interna interessante ao longo do livro. Sua transformação de um indivíduo urbano superficial para alguém mais conectado com a essência da vida é central para o enredo. Sua busca por promoção e significado leva à apreciação da simplicidade da vida rural, que contrasta com a artificialidade da sociedade parisiense. Essa jornada pessoal reflete uma crítica à alienação e ao vazio existencial que pode acompanhar a vida moderna e tecnológica.
O personagem José Fernandes, o amigo brasileiro de Jacinto, serve como uma janela para o Brasil na narrativa. Por meio das histórias de José Fernandes, Eça de Queirós apresenta uma visão indireta da cultura, sociedade e história brasileiras. Isso não apenas enriquece a trama, mas também destaca as relações entre Portugal e sua ex-colônia, trazendo um elemento de intercâmbio cultural.
A presença do Brasil na obra também levanta reflexões sobre a diáspora e a identidade nacional. A relação entre Portugal e o Brasil após a independência brasileira gerou uma complexa interconexão cultural e social. Eça de Queirós, por meio de personagens como José Fernandes, explora como esses laços ainda persistem e influenciam a perspectiva das pessoas.
“A Cidade e as Serras” é, portanto, muito mais do que um simples contraponto entre cidade e campo. É uma análise profunda das mudanças sociais e psicológicas trazidas pela modernização, questionando o equilíbrio entre o progresso tecnológico e a redução da experiência humana. A obra também oferece uma reflexão sobre as relações culturais e históricas entre Portugal e o Brasil, demonstrando a habilidade de Eça de Queirós em entrelaçar temas complexos em uma narrativa envolvente e rica.