O livro A Tartaruga que Queria Voar, escrito por João Anzanello Carrascoza, é uma delicada narrativa infantojuvenil que trabalha com metáforas sobre sonhos, limites e superação. Com uma linguagem poética e sensível, Carrascoza cria uma fábula que convida crianças e adultos a refletirem sobre o valor dos desejos e a importância da imaginação na construção da vida.
A protagonista é uma tartaruga que, ao contrário de seus pares acostumados com a lentidão da vida no chão, alimenta um sonho ousado: voar. Essa aspiração, aparentemente impossível para sua natureza, gera tanto estranhamento nos outros animais quanto um impulso de esperança dentro dela mesma. O contraste entre a realidade de sua condição e a grandeza de seu desejo estrutura a narrativa.
Carrascoza, conhecido por sua prosa lírica, apresenta a história como um convite à reflexão sobre o poder da vontade humana (ou, no caso, animal, na fábula) frente às limitações impostas. O autor utiliza imagens delicadas da natureza para intensificar a atmosfera simbólica da obra, tornando o texto acessível às crianças, mas cheio de camadas interpretativas para leitores mais velhos.
O sonho da tartaruga dialoga com a universalidade do desejo de ultrapassar fronteiras. O querer voar simboliza não apenas a busca por liberdade, mas também o enfrentamento daquilo que parece inalcançável. Nesse ponto, a fábula transcende a condição da personagem e se torna uma metáfora para qualquer pessoa que se recuse a se conformar com o previsível.
O enredo se desenvolve em pequenas passagens poéticas que mesclam fantasia e filosofia, em que a tartaruga reflete sobre sua condição, observa o voo dos pássaros e procura caminhos para tornar real aquilo que, em princípio, seria apenas um devaneio. A simplicidade do texto não reduz sua força: pelo contrário, amplia o alcance da mensagem.
Outro aspecto relevante é a forma como a obra trata da relação entre sonho e realidade. A tartaruga não precisa necessariamente alcançar o voo físico para realizar sua aspiração; o próprio ato de sonhar e imaginar já a transforma internamente. Essa leitura convida a pensar que muitas vezes o mais importante não é o resultado final, mas o percurso de manter viva a esperança.
No universo literário de João Anzanello Carrascoza, o pequeno gesto ganha profundidade e o banal se torna grandioso. A tartaruga, ao desejar o impossível, lembra ao leitor da necessidade de preservar a inocência, a imaginação e a coragem de não se limitar ao que está dado. Assim, a fábula torna-se um manifesto de esperança e de resistência contra a resignação.
Em resumo, A Tartaruga que Queria Voar é uma obra breve, mas repleta de sentidos. João Anzanello Carrascoza oferece ao leitor um texto que mistura poesia e filosofia em forma de fábula, ensinando que sonhar é, por si só, um modo de voar.