A fábula “O Asno e o Velho Pastor” de Esopo começa com um velho pastor que vivia em uma região tranquila, dedicando seus dias a cuidar de seu rebanho e, em particular, de seu fiel asno. Esse asno era seu ajudante mais valioso, carregando pacientemente os fardos de lã e outros pertences do pastor, sem reclamar. Certo dia, notícias de uma invasão inimiga começaram a se espalhar pela região, causando grande agitação entre os habitantes locais. Preocupado, o velho pastor decidiu que deveria agir rapidamente para evitar ser capturado.
O pastor, ansioso para fugir, começou a reunir seus pertences e chamou seu asno, que estava descansando tranquilamente. “Vamos, precisamos fugir antes que os inimigos cheguem!”, disse o pastor, puxando as rédeas do asno com urgência. No entanto, o asno, conhecido por sua calma e paciência, não se moveu. Ele permaneceu parado, observando seu dono com um olhar tranquilo, quase indiferente ao caos ao seu redor.
Vendo a resistência do asno, o pastor tentou novamente convencê-lo a se apressar, dizendo: “Se não fugirmos agora, seremos capturados e forçados a trabalhar para novos mestres! Não há tempo a perder!”. Mas o asno, em vez de se apressar, virou a cabeça lentamente e, com uma sabedoria inesperada, perguntou ao pastor: “E o que mudaria para mim? Hoje eu carrego seus fardos, e amanhã, se for capturado, carregarei os fardos de outro. Meu trabalho continuará o mesmo, não importa quem seja o meu mestre.”
O velho pastor parou para refletir sobre as palavras do asno. Ele percebeu que, para o asno, a mudança de senhores não significaria uma mudança em sua condição de vida. O peso que ele carregava não diminuiria ou aumentaria apenas porque outra pessoa se tornaria seu dono. Ao compreender isso, o pastor sentiu uma nova serenidade tomar conta de si. Ele percebeu que sua situação, apesar da ameaça iminente, não era tão desesperadora quanto parecia. Decidiu, então, não fugir, mas esperar calmamente pelo que o futuro traria, aceitando o que viesse com uma nova perspectiva.
A fábula de Esopo termina com a moral de que, para aqueles que estão nas posições mais baixas, o simples fato de mudar de mestre ou governante não altera fundamentalmente sua vida. O trabalho duro e as dificuldades continuam a existir, independentemente de quem está no poder. Esopo, com essa narrativa, oferece uma reflexão sobre a condição humana, especialmente sobre a vida daqueles que, como o asno, carregam os fardos mais pesados da sociedade. A fábula nos leva a pensar sobre a natureza do trabalho, a servidão e as ilusões que podemos ter sobre as mudanças que não afetam a essência de nossa existência.