O conto começa apresentando o Rato do Campo, um pequeno roedor que vivia em uma toca escavada sob raízes de árvores, cercado por campos de trigo e hortas. Ele levava uma vida modesta, alimentando-se do que encontrava na natureza: grãos caídos, pedaços de milho, sementes e frutas silvestres. Era uma rotina simples, marcada por tranquilidade e ausência de grandes perigos, exceto os predadores ocasionais.
Um dia, enquanto comia seu jantar de raízes e um pedaço de cevada seca, o Rato do Campo recebeu a visita de seu amigo de infância, o Rato da Cidade. Este último era elegante, com pelos brilhantes, e seu jeito mostrava que estava acostumado a viver entre o luxo e a fartura. Após cumprimentá-lo calorosamente, o Rato do Campo o convidou para compartilhar sua refeição.
O Rato da Cidade, embora agradecido pela hospitalidade, observou que a comida era simples demais e até um pouco dura para seus dentes acostumados a pães fofos e queijos cremosos. Enquanto mordiscava um pedaço de raiz, começou a falar sobre sua vida na cidade: banquetes em cozinhas ricas, restos de festas deixados por humanos, alimentos raros vindos de lugares distantes e a emoção de viver cercado de movimento.
Ao ouvir essas histórias, o Rato do Campo ficou curioso. O Rato da Cidade, vendo o interesse do amigo, fez um convite entusiasmado: “Venha comigo e experimente como é a vida na cidade. Você vai conhecer sabores que jamais imaginou e nunca mais vai querer voltar a esta dieta simples.” O Rato do Campo, hesitante mas animado com a novidade, aceitou a proposta.
A viagem foi longa. Eles atravessaram campos, bosques e estradas até que, ao anoitecer, chegaram à grande cidade. O Rato da Cidade conduziu o amigo por becos e calçadas até uma imponente casa onde havia encontrado abrigo. Entraram furtivamente por uma fenda na parede e logo chegaram à sala de banquetes, onde uma mesa ainda estava posta após um jantar humano.
O cenário impressionou o Rato do Campo: travessas cheias de queijos variados, pães frescos, frutas cristalizadas, bolos recheados e taças com vinho derramado, cujo aroma doce enchia o ar. O Rato da Cidade exclamou: “Veja, meu amigo, aqui a vida é um verdadeiro festim! Sirva-se à vontade.” O visitante, maravilhado, provou um pedaço de queijo macio e se deliciou com o sabor, muito mais rico do que qualquer alimento que já experimentara no campo.
Mas a festa foi interrompida abruptamente por um barulho alto: passos humanos se aproximavam. O Rato da Cidade, já acostumado, correu para um buraco na parede, chamando o amigo. O Rato do Campo, apavorado, largou o queijo e correu atrás dele, sentindo o coração disparar. Esperaram em silêncio até que o perigo passasse.
Assim que retornaram à mesa, voltaram a comer — mas pouco depois, um cão enorme entrou na sala, farejando o chão. Mais uma vez, tiveram que fugir para salvar a vida. O Rato do Campo estava suado, trêmulo e já não conseguia saborear nada do banquete; cada pequeno som o fazia pensar que seria o último.
Depois de mais um susto, ele olhou para o amigo e disse: “Comida maravilhosa, meu amigo, isso eu admito. Mas todo este luxo não compensa o medo constante de perder a vida. Eu prefiro meus modestos grãos e raízes no campo, onde posso comer em paz, sem o som de passos ou latidos a me assombrar.”
O Rato da Cidade tentou convencê-lo de que com o tempo se acostumaria, mas o Rato do Campo já havia tomado sua decisão. Agradeceu a hospitalidade, despediu-se e fez o caminho de volta. Quando chegou à sua toca, sentiu um alívio profundo: o silêncio do campo era para ele um verdadeiro banquete de paz.
A moral deixada por Esopo é clara e universal: é melhor ter pouco e viver com segurança do que viver na abundância, cercado de medo e perigo. A história continua a ser contada há séculos justamente porque fala sobre escolhas essenciais da vida — entre luxo e tranquilidade, entre risco e contentamento.