A Resistência é um romance de Julián Fuks que narra a história de uma família argentina que se exila no Brasil durante a ditadura militar de 1976. O livro é uma reflexão sobre identidade, memória e pertencimento, explorando as complexas relações familiares e os traumas do passado. O narrador, Sebástian, busca entender sua história e a de seu irmão adotivo, Emi, enquanto lida com as ausências e silêncios que permeiam sua vida.
A narrativa é construída a partir de uma perspectiva íntima e pessoal, misturando elementos de autoficção e memória. Fuks utiliza uma linguagem poética e fragmentada, criando uma atmosfera de introspecção e busca. O romance não segue uma linearidade temporal, mas se organiza em torno de temas recorrentes, como a ausência dos pais, a relação com o irmão e a tentativa de compreender o passado familiar.
O livro aborda a experiência do exílio e seus efeitos na formação da identidade. A distância geográfica e emocional da Argentina coloca os personagens em uma posição de deslocamento constante, onde pertencem a dois lugares, mas não se sentem completamente parte de nenhum deles. Essa sensação de não pertencimento é intensificada pela falta de diálogo sobre o passado e pela dificuldade de expressar sentimentos e traumas.
Emi, o irmão adotivo, é uma figura central na narrativa. Sua história de vida é marcada por lacunas e silêncios, e sua presença é sentida de forma ambígua. Sebástian tenta preencher essas lacunas, buscando entender as razões da adoção e o impacto disso em sua própria identidade. A relação entre os irmãos é complexa, marcada por amor, inveja e uma busca compartilhada por respostas.
Os pais de Sebástian e Emi, Mario e Lucia, são psicanalistas argentinos que se exilaram no Brasil. Sua decisão de adotar Emi é um reflexo de seu compromisso com a resistência política e sua tentativa de reconstruir uma vida em um novo país. No entanto, sua ausência emocional e a falta de comunicação sobre o passado deixam marcas profundas nos filhos, que crescem sem compreender totalmente as escolhas dos pais.
A obra também aborda as tensões entre o público e o privado, a política e a vida pessoal. A militância dos pais e o contexto político da Argentina influenciam diretamente a dinâmica familiar e as experiências dos filhos. O livro questiona como os eventos históricos e políticos moldam as relações pessoais e como a história individual se entrelaça com a história coletiva.
A Resistência foi amplamente reconhecido pela crítica e recebeu diversos prêmios literários, incluindo o Prêmio Jabuti de Romance e Livro do Ano em 2016, e o Prêmio Literário José Saramago em 2017. Esses prêmios destacam a importância da obra na literatura brasileira contemporânea e sua relevância no debate sobre memória, identidade e história.
Em resumo, A Resistência é um romance que explora as complexidades da identidade e da memória, utilizando uma narrativa introspectiva e poética para abordar temas como o exílio, a adoção e os traumas do passado. Através da história de Sebástian e Emi, Fuks oferece uma reflexão profunda sobre como o passado molda o presente e como a busca por respostas é essencial para a compreensão de si mesmo.

