Em “As Cidades Invisíveis”, Italo Calvino narra as conversas entre o explorador veneziano Marco Polo e o imperador mongol Kublai Khan. Marco Polo descreve uma série de cidades imaginárias, cada uma com suas características únicas, oferecendo reflexões sobre a condição humana, a memória, o desejo, o tempo e a linguagem. Através dessas descrições, Calvino explora a natureza da imaginação e a multiplicidade de perspectivas sobre a realidade.
Diálogos entre Marco Polo e Kublai Khan
O livro é estruturado em uma série de diálogos entre Marco Polo e Kublai Khan. O imperador, cercado pelo vasto império que mal consegue compreender, encontra no explorador uma maneira de conhecer suas cidades. As descrições de Polo são vívidas e poéticas, e ele frequentemente utiliza metáforas e alegorias para transmitir a essência das cidades que visita.
Cidades e Memória
As cidades da primeira série, como Zaira e Maurília, exploram a relação entre as cidades e a memória. Elas são descritas como locais onde o passado se mistura com o presente, e cada detalhe das cidades contém histórias e lembranças dos seus habitantes. Zaira, por exemplo, é uma cidade cuja identidade é formada pelas memórias de seus habitantes, enquanto Maurília é comparada entre seu passado e seu presente.
Cidades e Desejo
Na série sobre cidades e desejo, como Despina e Fedora, Polo fala sobre cidades que são moldadas pelos desejos e sonhos de seus habitantes. Despina é vista de maneiras diferentes por quem chega do deserto e por quem vem do mar, simbolizando como o desejo pode transformar a percepção de um lugar. Fedora é uma cidade de futuros possíveis, onde cada habitante tem uma visão diferente do que a cidade poderia se tornar.
Cidades e Sinais
As cidades e sinais, como Tamara e Zirma, são exploradas na terceira série. Nessas cidades, a comunicação e os signos desempenham um papel central. Tamara é uma cidade onde tudo tem um significado simbólico, enquanto Zirma é caracterizada por repetição e constância, onde os sinais se tornam cada vez mais indistintos.
Cidades e Trocas
A série sobre cidades e trocas, incluindo Esmeralda e Eutrópia, discute as cidades como centros de troca e interação. Esmeralda é uma cidade de canais e pontes, onde as trocas econômicas e sociais são intrincadas e dinâmicas. Eutrópia, por sua vez, é composta por muitas cidades idênticas, onde os habitantes trocam de cidade em vez de mudarem suas rotinas, refletindo sobre a monotonia e a repetição.
Cidades e Olhos
Na série sobre cidades e olhos, como Valdrada e Zemrude, Calvino explora como a percepção visual afeta a experiência das cidades. Valdrada é refletida em um lago, de modo que cada ação tem uma duplicação visível. Zemrude é uma cidade que muda conforme a disposição do observador, exemplificando como a perspectiva pessoal pode alterar a realidade percebida.
Cidades e Nomes
As cidades e nomes, como Aglaura e Leônia, abordam a importância dos nomes e das identidades. Aglaura é uma cidade onde as descrições se tornaram mais importantes do que a própria cidade, enquanto Leônia é uma cidade que constantemente se renova, descartando o antigo para abraçar o novo, destacando a efemeridade e o consumo.
Cidades e Mortos
Na série sobre cidades e mortos, como Argia e Laudômia, Polo descreve cidades onde a presença da morte é palpável. Argia é uma cidade subterrânea onde os vivos vivem entre os mortos, enquanto Laudômia tem três versões: uma dos vivos, outra dos mortos e outra dos que ainda não nasceram, mostrando a interconexão entre diferentes estados de existência.
Cidades e Céu
As cidades e céu, como Tecla e Perínquia, tratam das aspirações humanas e da construção do futuro. Tecla está constantemente em construção, representando um trabalho interminável e uma busca infinita. Perínquia é suspensa entre dois precipícios, desafiando a gravidade e simbolizando a fé e a incerteza.
Conclusão
Ao longo dos relatos, Kublai Khan percebe que as cidades descritas por Marco Polo são, na verdade, reflexos de Veneza, a cidade natal do explorador. “As Cidades Invisíveis” não é apenas uma coleção de histórias de lugares exóticos, mas uma meditação sobre a experiência humana e a multiplicidade de realidades. Calvino convida os leitores a explorar suas próprias cidades invisíveis, aquelas construídas por memórias, desejos, medos e sonhos.
O livro termina sem uma conclusão definitiva, sugerindo que a jornada de descoberta e compreensão nunca realmente termina. Marco Polo e Kublai Khan continuam a dialogar, representando a eterna busca pela compreensão da complexidade e beleza do mundo.