O Missionário é um romance naturalista escrito por Inglês de Sousa e publicado em 1891, ambientado na região amazônica do Pará. A obra retrata o conflito entre a vocação religiosa e os desejos humanos, explorando as contradições da moralidade e da hipocrisia social. Inglês de Sousa, influenciado pelo naturalismo europeu, utiliza a obra para mostrar como o meio ambiente, a sociedade e as circunstâncias influenciam o comportamento e as escolhas humanas.
O protagonista, Padre Antônio de Morais, chega à pequena cidade de Silves, recém-ordenado e cheio de expectativas sobre sua missão religiosa. No entanto, ele demonstra falta de verdadeira vocação e é mais motivado pelo prestígio social e pelo poder que a posição eclesiástica proporciona. A chegada à região amazônica, com suas dificuldades e isolamento, é o pano de fundo para a exploração da natureza humana e das fragilidades do personagem.
Entediado com a rotina monótona da cidade e motivado pelo desejo de impressionar, Padre Antônio decide aventurar-se na floresta para catequizar os índios mundurucus, missão que exige coragem e determinação. Ele parte acompanhado do sacristão Macário, que não suporta as dificuldades da viagem e retorna antes de chegar ao destino, deixando o padre sozinho em contato direto com a natureza e os desafios do isolamento.
Durante a jornada, Padre Antônio adoece gravemente e é acolhido por João Pimenta, um agricultor da região, em sua propriedade. A convivência com a filha do agricultor, Clarinha, que cuida dele durante a recuperação, desperta nele sentimentos de afeição e desejo, levando-o a confrontar sua própria moralidade e os votos de castidade que fez.
A relação com Clarinha se torna cada vez mais intensa, e a solidão da vida rural, aliada à vulnerabilidade causada pela doença, faz com que o padre ceda aos seus impulsos humanos. Essa transgressão evidencia o conflito entre a religiosidade formal e os instintos naturais, tema central do naturalismo, mostrando a fragilidade do ser humano diante de tentações e desejos.
Padre Antônio retorna a Silves acompanhado de Clarinha, sendo recebido pela população como um herói e exemplo de devoção, sem que ninguém suspeite de sua queda moral. A obra evidencia a hipocrisia social e a discrepância entre aparência e realidade, demonstrando como o prestígio e a imagem pública podem mascarar a verdadeira natureza das pessoas.
A narrativa de Inglês de Sousa é rica em detalhes descritivos, que vão desde a paisagem amazônica até os ambientes internos da cidade e das casas rurais. Essa riqueza descritiva serve para intensificar o naturalismo da obra, mostrando a influência do meio ambiente e da sociedade sobre os indivíduos, e como o comportamento humano pode ser moldado por fatores externos.
O Missionário é, portanto, uma reflexão profunda sobre a dualidade entre dever e desejo, mostrando como os impulsos humanos, o ambiente e a sociedade interagem para moldar a moralidade de um indivíduo. A obra se mantém relevante até hoje, sendo um exemplo clássico do naturalismo brasileiro e da análise crítica da condição humana, oferecendo lições sobre ética, religiosidade e comportamento social.