“A Bolsa e a Vida”, de Mário de Andrade, é uma crônica que utiliza o humor e a crítica social para abordar questões sobre a vida moderna e a relação do ser humano com o dinheiro. A história segue o encontro entre dois personagens: um homem simples e um ladrão. O título da obra remete à famosa expressão “A bolsa ou a vida”, dita por assaltantes, que impõem à vítima a escolha entre entregar seus bens ou perder a própria vida.
Na narrativa de Mário de Andrade, o homem comum, ao ser abordado pelo ladrão que exige “a bolsa ou a vida”, surpreende o criminoso ao iniciar uma reflexão profunda sobre o valor de sua própria vida e a futilidade do apego aos bens materiais. Ao invés de simplesmente entregar sua bolsa, ele começa a filosofar sobre o que realmente importa na vida, o que deixa o ladrão atordoado e sem saber como reagir àquela inesperada reação.
O texto é permeado por uma crítica ao materialismo e à superficialidade da sociedade moderna, levantando questionamentos sobre o que realmente é valioso para o ser humano. Mário de Andrade utiliza a ironia e o absurdo para mostrar como as pessoas muitas vezes se encontram presas a valores vazios e efêmeros, enquanto negligenciam questões mais essenciais, como a própria vida e a qualidade de suas relações.
O encontro entre o homem e o ladrão, ao longo da narrativa, se transforma em uma espécie de debate filosófico, no qual o homem vai desconstruindo a lógica do roubo e do apego ao dinheiro, levando o ladrão a questionar suas próprias motivações. O desfecho da crônica é igualmente surpreendente, pois o ladrão, confuso e desorientado pela reflexão do homem, acaba desistindo de seu intento, incapaz de lidar com a profundidade dos questionamentos apresentados.
Com uma linguagem simples, porém repleta de ironia e crítica, Mário de Andrade utiliza essa crônica para expor o contraste entre o materialismo e a vida interior, desafiando o leitor a refletir sobre suas próprias prioridades e a forma como o dinheiro e os bens materiais podem moldar a sociedade. O título “A Bolsa e a Vida” ganha assim um significado mais profundo, sugerindo que a verdadeira escolha que todos enfrentamos diariamente não é entre os bens materiais e a vida, mas entre uma vida centrada em valores superficiais ou uma vida mais significativa e autêntica.
A crônica, com seu humor sutil e sua crítica afiada, permanece atual, tocando em questões universais que continuam a ressoar na sociedade contemporânea, e faz parte do legado literário de Mário de Andrade como um dos maiores nomes da literatura brasileira.