“A Festa”, de Ivan Ângelo, é um romance marcante da literatura brasileira, publicado em 1976, que se passa durante a ditadura militar. A obra é conhecida por sua narrativa fragmentada e inovadora, utilizando múltiplas vozes e perspectivas para construir uma visão complexa e crítica da sociedade brasileira da época. Ao misturar realidade e ficção, o livro oferece uma visão crítica do Brasil sob o regime autoritário, revelando os medos, frustrações e angústias das pessoas comuns que viviam sob a repressão política.
A trama de “A Festa” gira em torno de um evento social — a tal festa mencionada no título — que serve como pano de fundo para a exploração das relações humanas e do ambiente político tenso. No entanto, o enredo não é linear; ele é construído a partir de diferentes pontos de vista, com uma estrutura que se assemelha a um quebra-cabeça. Cada capítulo apresenta uma nova perspectiva, como se fossem peças desconectadas que, ao final, formam uma imagem completa e complexa da realidade brasileira da década de 1970.
Os personagens em “A Festa” são indivíduos comuns, que se deparam com dilemas existenciais e sociais. Alguns lidam com o vazio da vida cotidiana, enquanto outros enfrentam questões mais diretamente ligadas à política e à repressão. Essa diversidade de experiências e vozes permite que o autor apresente uma visão ampla do impacto da ditadura militar em diferentes aspectos da sociedade.
Ivan Ângelo utiliza uma linguagem rica e densa, explorando tanto o interior de seus personagens quanto o cenário político e social mais amplo. O estilo fragmentado da obra, além de representar a alienação e confusão dos personagens, reflete a fragmentação da própria sociedade brasileira na época da ditadura. Esse formato não linear também exige que o leitor participe ativamente da construção do sentido, montando as peças da narrativa à medida que avança na leitura.
Embora o título “A Festa” sugira um evento alegre e celebrativo, o romance contrasta com essa expectativa ao revelar as tensões e angústias escondidas por trás das aparências. A festa, em certo sentido, é uma metáfora para a vida social sob a repressão militar, onde as interações superficiais escondem a violência, o medo e a opressão do regime.
No final, “A Festa” é um retrato potente e multifacetado de uma época difícil da história do Brasil, escrito com grande habilidade literária. Ivan Ângelo consegue capturar o espírito da ditadura militar e seus efeitos sobre os indivíduos de maneira única, através de uma narrativa que desafia convenções e convida o leitor a refletir sobre o poder, a alienação e a resistência.