“A Oitava Vida (para Brilka)” é uma saga familiar grandiosa, que atravessa o século XX por meio da trajetória de seis gerações da família Jashi, originária da Geórgia. Narrado por Niza, uma das descendentes, o livro é uma carta endereçada à sua jovem sobrinha Brilka, com o objetivo de revelar a verdade por trás da história da família.
A trama começa com o bisavô de Niza, um fabricante de chocolate com uma receita secreta e irresistível, que se torna símbolo de poder e tragédia. A cada geração, a narrativa expõe as consequências políticas e pessoais de viver sob regimes totalitários e em meio às transformações profundas da Europa Oriental, da Revolução Russa à queda da União Soviética.
O livro explora o impacto devastador da história coletiva sobre o destino individual, especialmente das mulheres da família, que enfrentam repressões, perdas, traições e escolhas difíceis. A cada capítulo, somos apresentados a uma nova “vida” – marcada por amor, guerra, violência, silêncio e sobrevivência.
A personagem Stasia, filha do chocolatier, é uma das primeiras figuras femininas centrais. Ela representa a força e a resistência diante das fraturas causadas pelo comunismo e pela guerra. Suas decisões moldam o destino das gerações seguintes, especialmente de sua filha Christine, marcada por paixões perigosas e tragédias políticas.
Niza, a narradora, assume o papel de cronista e curadora da memória familiar. Sua escrita é densa, reflexiva e sensível, e ela busca dar sentido aos erros, segredos e silêncios que assombram os Jashi. Sua relação com Brilka, a oitava vida do título, é uma tentativa de quebrar o ciclo de dor e omissão que atravessa a linhagem.
A metáfora do chocolate é recorrente e poderosa: prazeroso, sedutor, mas fatal. A receita secreta acompanha os personagens ao longo do século, servindo como símbolo das escolhas tentadoras e das consequências imprevisíveis da busca por poder, amor ou liberdade.
Haratischwili também aborda a identidade georgiana e a tensão entre o individual e o coletivo, entre o nacionalismo e a dominação soviética. O romance oferece uma rara e profunda visão sobre a história da Geórgia e de seus habitantes, muitas vezes esquecidos nas narrativas europeias tradicionais.
A linguagem da autora é lírica, intensa e envolvente. Apesar da extensão do romance, a escrita prende o leitor com maestria, entrelaçando histórias de amor, traição e redenção com eventos históricos reais, como a repressão stalinista, os expurgos e o colapso do bloco comunista.
“A Oitava Vida (para Brilka)” é uma obra monumental sobre o peso da herança familiar, os traumas históricos e a possibilidade de cura por meio da memória. Com personagens marcantes e um panorama histórico complexo, Nino Haratischwili constrói um épico moderno, emocionante e inesquecível.