“Noite na Taverna” é uma das obras mais emblemáticas do Ultra-Romantismo brasileiro, escrita por Álvares de Azevedo e publicada postumamente em 1855. O livro é composto por sete capítulos interligados, que se passam em uma taverna sombria, onde cinco personagens compartilham histórias de vida marcadas por excessos, amores trágicos e atos violentos. O cenário decadente e melancólico cria o tom perfeito para o desabafo de almas atormentadas e desiludidas.
O enredo se inicia com uma introdução em que um narrador sem nome apresenta a reunião dos amigos na taverna. Embriagados e desencantados, eles decidem compartilhar suas histórias mais sombrias. Cada capítulo seguinte foca na narrativa de um personagem: Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e o próprio narrador final, cuja identidade se entrelaça com a loucura e o mistério.
Solfieri conta sobre uma mulher que resgata da morte em uma casa abandonada, por quem se apaixona obsessivamente — uma paixão doentia que termina com a morte da jovem. Já Bertram relata suas experiências amorosas com mulheres que morreram tragicamente, além de sua fuga para a Grécia, onde presencia cenas de horror e guerra. Sua narrativa mistura erotismo, culpa e degradação.
Gennaro, por sua vez, descreve o amor incestuoso por sua própria irmã, revelando uma paixão proibida e avassaladora. O tema da transgressão moral é central em sua história, assim como a ideia de destino cruel. Claudius Hermann é talvez o mais cruel dos personagens: ele narra seus crimes com frieza, incluindo o assassinato de uma mulher e do próprio filho, reforçando a estética sombria da obra.
A última narrativa é feita por um personagem não nomeado, que descreve seu envolvimento com uma mulher misteriosa, num clima de delírio e perdição. A história culmina num banquete macabro que simboliza a decadência moral e física dos personagens. Há, nesse ponto, uma fusão entre loucura e morte, traço marcante da literatura ultra-romântica.
Noite na Taverna carrega fortemente as marcas do gótico, do romantismo sombrio e do niilismo. A morte, o vício, o erotismo e a perda de sentido da existência permeiam todas as histórias. Não há espaço para redenção: os personagens são levados pela autodestruição e por uma busca insaciável de prazer que termina sempre em ruína.
Álvares de Azevedo usa o estilo lírico e rebuscado para criar atmosferas densas e carregadas de emoção. Sua linguagem é poética, mesmo ao tratar de temas cruéis e sórdidos. A construção das histórias em primeira pessoa aproxima o leitor da psicologia perturbada dos personagens, provocando fascínio e repulsa ao mesmo tempo.
Essa obra é também um retrato de uma juventude romântica desencantada com a realidade e fascinada pela morte, pela melancolia e pelo proibido. Os personagens, quase todos aristocratas decadentes, vivem à margem das convenções sociais e parecem buscar nas experiências extremas algum sentido para suas vidas vazias.
Ao fim, Noite na Taverna não é apenas um livro de contos macabros: é um mergulho profundo no inconsciente de uma geração marcada pela dor, pelo tédio e pelo desejo de se destruir. É uma obra intensa, provocadora, e que até hoje instiga leitores a refletirem sobre os limites da existência, da paixão e da loucura.