“O Feijão e o Sonho”, de Orígenes Lessa, é uma narrativa profunda e ao mesmo tempo sensível sobre o conflito entre a realidade prática e as aspirações idealistas. A obra conta a história de Campos Lara, um professor e poeta que vive em situação econômica precária, mas é apaixonado por sua arte e acredita no poder transformador da poesia. Ele se vê dividido entre suas aspirações literárias e a necessidade de prover para sua família, que inclui sua esposa, Maria Rosa, e seus filhos pequenos.
Maria Rosa representa o lado prático da vida. Enquanto Campos Lara sonha e idealiza, ela lida com as dificuldades diárias de manter a casa, cuidar dos filhos e garantir o mínimo de sustento. Para ela, o importante é o “feijão” – a base para a sobrevivência concreta e palpável da família. Ela constantemente pressiona o marido para que ele busque formas mais práticas de sustentar a família, enquanto ele permanece imerso em sua visão poética e idealista, o “sonho”.
Lessa utiliza essa dicotomia para explorar o embate entre a realidade material e o mundo das ideias. Campos Lara acredita que a poesia e os sonhos têm valor em si mesmos e que o mundo precisa de beleza e inspiração. No entanto, ele enfrenta o dilema de um idealista em uma sociedade que valoriza mais o pragmatismo do que a arte, e esse conflito gera frequentes desentendimentos entre ele e Maria Rosa.
Ao longo da história, o autor destaca as tensões que surgem entre os dois mundos. Campos Lara luta para manter sua identidade como poeta e se recusa a abandonar seus sonhos, ainda que as circunstâncias pressionem para que ele escolha o “feijão”. Sua jornada é permeada por momentos de dúvida e frustração, enquanto ele questiona até onde pode ir em sua devoção à arte sem comprometer o bem-estar de sua família.
A narrativa de Lessa revela uma crítica sutil à sociedade, que muitas vezes desvaloriza o artista e o intelectual em favor das necessidades materiais. Em muitos sentidos, “O Feijão e o Sonho” levanta uma questão essencial: é possível viver de sonhos em um mundo tão focado no pragmatismo e na sobrevivência? Até que ponto é justo exigir que o artista sacrifique sua paixão para se adaptar a uma realidade que não valoriza sua arte?
No final, Orígenes Lessa não oferece uma resposta definitiva ao dilema, mas deixa ao leitor a reflexão sobre a importância de equilibrar os sonhos e as necessidades. A obra retrata o peso da responsabilidade familiar e a dureza da vida material, mas também celebra a persistência do idealismo em um mundo de desafios.