Senhora do Engenho, de Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes, é uma obra que mergulha no universo dos engenhos de açúcar do Brasil colonial, destacando as relações sociais, culturais e econômicas que permeavam esse ambiente. O livro resgata um período marcado por contrastes, onde a riqueza dos senhores de terras coexistia com o sofrimento e a exploração dos escravizados.
A narrativa apresenta uma protagonista feminina que, diferentemente das figuras passivas tradicionalmente associadas às mulheres desse período, assume um papel de destaque e liderança dentro da administração do engenho. Essa construção quebra expectativas e ressalta a força das mulheres na história, mesmo em um contexto dominado por homens.
Ao retratar o cotidiano do engenho, a autora mostra não apenas a grandiosidade das casas-grandes e o poder dos senhores, mas também a vida dura e desumana dos trabalhadores escravizados. Essa dualidade revela a complexidade da sociedade colonial, onde luxo e violência andavam lado a lado.
A personagem central é apresentada como alguém que precisa conciliar sua posição de poder com dilemas éticos e pessoais. Seu olhar e suas decisões tornam o romance uma reflexão sobre responsabilidade, justiça e compaixão em um sistema social profundamente desigual.
Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes utiliza uma linguagem envolvente que combina rigor histórico e narrativa literária, permitindo que o leitor se sinta transportado para o cenário retratado. O estilo da autora destaca a importância de resgatar a história das mulheres, muitas vezes silenciadas nos relatos oficiais do período.
O romance também dialoga com questões contemporâneas, como o papel da mulher na sociedade e a memória da escravidão. Ao dar protagonismo a uma senhora de engenho, a autora reinterpreta a história a partir de um ponto de vista feminino, oferecendo novas perspectivas sobre o passado brasileiro.
A força da obra está na capacidade de humanizar personagens que, em outros contextos, seriam apenas arquétipos. Aqui, tanto a protagonista quanto os demais personagens são retratados com profundidade psicológica, o que torna a narrativa mais rica e impactante.
Em resumo, Senhora do Engenho é um romance histórico que ilumina o Brasil colonial sob uma ótica original, trazendo uma mulher como figura central em um ambiente marcado por poder, riqueza e escravidão. A obra de Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes é uma contribuição valiosa para a literatura brasileira, especialmente por resgatar memórias e questionar estruturas sociais do passado.