“O Físico” de Noah Gordon é um romance histórico que narra a jornada de Rob J. Cole, um jovem inglês do século XI que, em busca de conhecimento e motivado pelo desejo de ajudar as pessoas, decide se tornar médico em uma época em que a medicina era dominada por práticas supersticiosas. O livro é o primeiro de uma trilogia, e é amplamente elogiado pela sua pesquisa minuciosa sobre o período e pela criação de um protagonista que enfrenta grandes obstáculos em sua busca por compreensão e cura.
A história começa na infância de Rob, que, órfão muito cedo, é acolhido por um barbeiro-cirurgião itinerante. Esse homem é um curandeiro que, embora tenha poucos conhecimentos, desperta em Rob um fascínio pelas práticas de cura. O garoto se torna seu aprendiz e começa a aprender os rudimentos da medicina popular e das curas improvisadas da época, mas logo percebe as limitações dessa abordagem e sonha em descobrir mais. Após vários anos viajando, ele ouve falar de uma escola de medicina na distante Pérsia, onde o renomado médico Avicena ministra aulas. Inspirado, Rob decide que precisa estudar lá para entender melhor as doenças e aliviar o sofrimento das pessoas.
Para realizar esse sonho, Rob enfrenta um obstáculo cultural e religioso, pois os cristãos não são bem-vindos na Pérsia muçulmana. Determinado, ele se disfarça de judeu e adota o nome de Jesse ben Benjamin, um ato arriscado que o coloca constantemente em perigo. Ao longo de sua jornada para o Oriente, ele atravessa vários países e enfrenta perigos como doenças, desidratação e ataques de bandidos, além de lidar com os desafios culturais e religiosos de um ambiente completamente diferente do seu.
Na Pérsia, Rob finalmente chega à escola de medicina de Isfahan, onde se torna aluno de Avicena, um dos mais influentes médicos e filósofos da história islâmica. Sob a tutela de Avicena, ele aprende técnicas avançadas e revolucionárias para a época, como anatomia e métodos cirúrgicos. Ao longo de seus estudos, Rob entra em contato com novas ideias científicas e humanitárias, que expandem sua visão do mundo e o tornam um verdadeiro médico, mas que também o colocam em conflito com as ideias rígidas e dogmáticas de sua terra natal.
Durante sua estadia na Pérsia, Rob vive um amor proibido, formando um relacionamento com uma mulher judia chamada Mary. Esse romance é uma fonte de conforto e desafio para ele, e o faz refletir sobre o peso das escolhas e dos sacrifícios pessoais na busca pelo conhecimento. Ao mesmo tempo, ele se vê dividido entre sua identidade disfarçada e seus próprios valores culturais, o que torna seu desejo de voltar à Inglaterra uma decisão difícil e arriscada.
A narrativa não se concentra apenas na medicina, mas também aborda a realidade política e social do século XI, destacando as tensões entre cristãos, judeus e muçulmanos. A escola de Isfahan é um lugar de relativa paz e intercâmbio cultural, onde Rob pode interagir com pessoas de várias religiões e nacionalidades, mas o ambiente fora de seus muros é marcado por desconfiança e violência, o que torna sua vida como estrangeiro em uma terra islâmica ainda mais perigosa.
Noah Gordon constrói uma rica tapeçaria histórica e cultural ao explorar a busca de Rob pelo conhecimento e por um sentido de propósito. O protagonista representa o espírito de superação e dedicação ao altruísmo, um homem que desafia as barreiras sociais e religiosas para se tornar um curador em uma época de trevas e ignorância. Ele aprende que o verdadeiro sentido de ser médico vai além do conhecimento técnico e exige uma compreensão compassiva do sofrimento humano.
“O Físico” é mais do que uma história sobre a busca pelo conhecimento; é um tributo ao poder da ciência e da compaixão em meio aos preconceitos e à intolerância da época. A jornada de Rob J. Cole reflete uma luta universal pelo entendimento e pela cura em tempos de ignorância e fé cega, e a obra de Gordon permanece uma leitura fascinante e inspiradora para os que se interessam pelo passado da medicina e pela resiliência humana diante das adversidades.