Na fábula “O Homem e a Serpente”, Esopo apresenta uma breve, mas poderosa lição sobre natureza e gratidão. A história começa com um homem que encontra uma serpente aparentemente morta pelo frio do inverno. Movido por compaixão, ele a recolhe, aquece e leva para casa, determinado a ajudá-la a sobreviver.
O homem acredita que, ao salvar a serpente, está fazendo um ato de bondade que será reconhecido. Em seu entendimento, todo ser vivo é capaz de sentir gratidão por quem lhe estende a mão. Com esse pensamento, ele cuida da serpente, oferecendo-lhe abrigo e calor humano.
Porém, assim que a serpente se recupera, mostra sua verdadeira natureza: morde o homem que a salvou, envenenando-o mortalmente. Surpreso e agonizante, o homem questiona o motivo de tal traição. Em resposta, a serpente apenas afirma que ele sabia quem ela era desde o começo.
Essa resposta evidencia a essência da fábula: algumas naturezas não mudam, independentemente de como são tratadas. Esopo, ao longo de suas narrativas, frequentemente aborda a ilusão humana de que todos responderão à bondade com bondade — e aqui desmonta essa expectativa com dureza e clareza.
A moral da história é direta: “Quem poupa o mal, acaba pagando por isso”. Ou ainda, “Não se deve esperar gratidão de quem tem uma índole destrutiva”. A serpente simboliza aqueles que, por mais ajuda que recebam, continuam perigosos por escolha ou essência.
O autor não se limita a um julgamento moral simples, mas propõe uma reflexão sobre prudência. Esopo nos convida a analisar com mais atenção quem acolhemos, quem ajudamos e o que esperamos em troca. Bondade sem discernimento pode levar à ruína.
Essa fábula, apesar de curta, é cheia de simbolismos. A serpente representa a traição que vem da ingratidão, enquanto o homem representa a ingenuidade de quem acredita que boas ações sempre gerarão boas respostas. Esopo mostra que é preciso sabedoria, não apenas boa intenção.
No contexto atual, essa história ainda ressoa. Muitas vezes, em relações pessoais ou profissionais, confiamos em pessoas cujos padrões já demonstraram perigo. A mensagem de Esopo é que a bondade deve vir acompanhada de sensatez — e que reconhecer a natureza do outro é sinal de maturidade.
“O Homem e a Serpente” é, portanto, uma advertência eterna sobre os limites da misericórdia cega. Com linguagem simples e metáfora poderosa, Esopo nos lembra que a prudência é tão essencial quanto a compaixão — e que nem todos merecem uma segunda chance.