“A Filha do Coveiro” é um romance denso e perturbador da autora norte-americana Joyce Carol Oates. A obra acompanha a trajetória de Rebecca Schwart, filha de imigrantes judeus alemães, que cresceu em meio à pobreza e ao trauma em uma pequena cidade dos Estados Unidos.
Rebecca é filha de Jacob Schwart, um homem destruído pela perda de status e dignidade após emigrar da Alemanha nazista e se tornar coveiro em um cemitério no interior de Nova York. A relação entre ele e a família é marcada pela frustração, abuso e violência, o que gera marcas profundas na infância da protagonista.
Desde cedo, Rebecca enfrenta a marginalização social, o preconceito e o medo dentro e fora de casa. O sofrimento a transforma em uma jovem retraída e desconfiada, mas também desperta nela um desejo profundo de sobrevivência e liberdade.
A tragédia marca sua adolescência com um crime brutal que muda completamente o rumo de sua vida. Após esse evento, Rebecca foge e assume uma nova identidade, reinventando-se como Hazel Jones. A partir desse ponto, o livro explora temas como reconstrução, trauma e a busca pela redenção.
Ao longo da narrativa, acompanhamos Hazel em diversas fases da vida: trabalhando, amando, fugindo e tentando apagar o passado. Mesmo com a nova identidade, ela não consegue se desvencilhar totalmente da menina marcada pela violência e pela exclusão social.
Joyce Carol Oates constrói a história com maestria, alternando entre o presente e os flashbacks da infância e juventude de Rebecca. A autora mergulha profundamente na psicologia da personagem, mostrando como os traumas moldam seu comportamento e sua forma de se relacionar com o mundo.
A linguagem do livro é intensa, quase claustrofóbica em certos trechos, refletindo o sofrimento e os conflitos internos da protagonista. Ao mesmo tempo, há momentos de ternura e humanidade que revelam a complexidade de Rebecca/Hazel como personagem.
“A Filha do Coveiro” é um retrato sombrio, mas profundamente humano, da experiência imigrante, da opressão de gênero e da resiliência feminina diante de um mundo hostil. A protagonista carrega a dor de sua origem, mas também a força para resistir e seguir em frente.
No fim, o livro deixa uma reflexão poderosa: até que ponto conseguimos escapar de nossas origens? E será possível, de fato, apagar um passado tão profundamente gravado na pele e na alma?