Publicado em 1872, Inocência, do Visconde de Taunay, é um dos principais romances regionalistas do século XIX no Brasil, ambientado no sertão de Mato Grosso. A obra faz parte do chamado romance de costumes, revelando com riqueza de detalhes a paisagem, os hábitos e as relações sociais do interior brasileiro.
A narrativa acompanha a jovem Inocência, filha do severo Pereira, um homem rústico e ciumento, que vive em uma fazenda isolada. Inocência é retratada como uma moça bela, pura e ingênua, mas que vive sob rígida vigilância do pai. Desde o início, percebe-se o contraste entre a doçura da personagem e a dureza do ambiente que a cerca.
O enredo se intensifica quando o viajante e botânico Cirino chega à fazenda. Ele é chamado para tratar de uma enfermidade da moça, mas, no convívio, nasce entre os dois um amor proibido. A relação é construída com discrição e sensibilidade, mas desde o princípio carrega o peso da tragédia, pois o pai já havia prometido a mão da filha a Manecão Doca, um homem rude e de grande força física.
O romance de Inocência e Cirino representa o choque entre a espontaneidade do sentimento e as regras sociais do sertão. O ambiente hostil e o caráter autoritário do pai transformam a história de amor em um destino marcado pela fatalidade, seguindo a tradição romântica do período. O amor impossível, o ciúme, a repressão e a violência se tornam os motores da trama.
Taunay constrói um retrato profundo do sertão, não apenas em seus aspectos físicos — fauna, flora e clima — mas também em suas normas culturais, costumes e tensões. A linguagem utilizada reforça o realismo da obra, sem deixar de lado a estética romântica que envolve os personagens centrais.
O desfecho da narrativa é trágico e emblemático do romantismo brasileiro. A descoberta da paixão de Inocência e Cirino desencadeia a fúria de Pereira e o confronto com Manecão Doca, culminando na morte da protagonista. O destino da jovem simboliza a fragilidade do amor diante da opressão social e da força das tradições.
Além da trama central, o romance possui grande valor documental, registrando aspectos da vida sertaneja, como as práticas médicas populares, a importância da palavra dada nos acordos de casamento e a organização social da família patriarcal. Assim, Inocência é tanto uma obra literária quanto um registro histórico e etnográfico.
Em síntese, Inocência é um marco do regionalismo brasileiro, combinando romance, tragédia e observação social. O Visconde de Taunay não apenas constrói uma história comovente de amor impossível, mas também oferece ao leitor um retrato vívido e realista do sertão do século XIX, tornando a obra uma das mais significativas do período romântico nacional.