A narrativa acompanha Amaro, um marinheiro negro conhecido como Bom-Crioulo, cuja força e disciplina o destacam entre a tripulação. Sua vida militar é marcada por rigidez e violência, refletindo o ambiente opressivo da Marinha do século XIX. Quando conhece o jovem grumete Aleixo, surge uma relação que transforma seu cotidiano. A convivência cria laços afetivos profundos e complexos. A história expõe tensões sociais e psicológicas desde o início.
O romance aborda de forma pioneira o homoerotismo na literatura brasileira. A relação entre Amaro e Aleixo cresce em meio a olhares preconceituosos e pressões hierárquicas. Caminha retrata o desejo como força conflitante em uma sociedade moralista. Os personagens vivem sentimentos proibidos que desafiam normas sociais. A paixão se mistura à insegurança constante.
A ambientação naval reforça a sensação de clausura e vigilância. A disciplina rígida e os castigos físicos revelam a crueldade de um sistema opressor. O mar se torna metáfora da vastidão inalcançável e da liberdade negada. A rotina militar molda comportamentos e intensifica tensões emocionais. Amaro luta para conciliar desejo, dever e identidade.
Como homem negro, Amaro enfrenta racismo explícito e velado. Sua força física vira estereótipo, e sua humanidade costuma ser ignorada. Caminha expõe desigualdades raciais perpetuadas pelas estruturas sociais. O personagem busca dignidade em um ambiente que o desumaniza. A obra denuncia essas violências de forma contundente.
Aleixo, frágil e jovem, contrasta com a intensidade de Amaro. Sua vulnerabilidade cria dependência emocional dentro da relação. O conflito surge quando Aleixo passa a conviver com novas influências. A juventude do grumete o torna suscetível a manipulações. A diferença de maturidade alimenta inseguranças e desequilíbrios.
A sociedade da época aparece marcada por hipocrisia moral. O romance exibe conflitos entre aparência e realidade. Normas sociais rígidas sufocam desejos e identidades não aceitas. Caminha mostra como a repressão gera tragédias silenciosas. A tensão entre o privado e o público se intensifica ao longo da história.
O enredo ganha dramaticidade quando a relação entre Amaro e Aleixo se deteriora. Ciúmes, traições e medo moldam a ruptura. Amaro, emocionalmente abalado, perde o controle de suas ações. A angústia toma conta do protagonista. O ambiente opressor agrava seu sofrimento interno.
O desfecho trágico evidencia a crítica social do autor. A violência final simboliza o fracasso de uma sociedade incapaz de acolher diferenças. O romance encerra entre dor, injustiça e reflexão moral. Caminha deixa claro o impacto destrutivo do preconceito. A obra permanece como marco da literatura naturalista brasileira.

