“Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa, é um dos maiores clássicos da literatura brasileira, publicado em 1956. O romance é narrado em primeira pessoa pelo personagem Riobaldo, um ex-jagunço que, em um longo monólogo, relembra e reflete sobre sua vida, especialmente sobre sua trajetória no sertão brasileiro. A narrativa mistura realidade, mitologia, filosofia e religião, explorando a complexidade da existência humana, em meio às paisagens áridas e violentas do sertão.
Riobaldo relata sua infância, suas andanças como jagunço e os conflitos em que participou, sempre permeados pela luta entre grupos rivais no sertão. O romance apresenta uma forte dimensão filosófica, especialmente nas reflexões de Riobaldo sobre o bem e o mal, o destino e a liberdade, e sobre a existência de Deus e do diabo. Um dos grandes dilemas do protagonista é o pacto que ele acredita ter feito com o diabo para se tornar líder dos jagunços e conseguir vingar a morte de seu amigo Joca Ramiro.
Uma das principais temáticas da obra é a relação entre Riobaldo e Diadorim, um companheiro de armas com quem ele desenvolve uma amizade profunda e intensa. Ao longo do romance, Riobaldo sente uma atração ambígua por Diadorim, que, mais tarde, é revelado como sendo Reinaldo, uma mulher disfarçada de homem. O amor reprimido e impossível entre os dois é um dos elementos centrais da narrativa, e sua revelação no fim da trama traz uma dimensão trágica à história.
“Grande Sertão: Veredas” também explora a linguagem de forma inovadora. Guimarães Rosa cria um português sertanejo, misturando neologismos, arcaísmos e expressões regionais, criando uma linguagem única e densa que reflete a oralidade do sertão. Esse estilo narrativo se torna um dos grandes atrativos da obra, exigindo uma leitura atenta e dedicada.
A travessia pelo sertão, tanto física quanto espiritual, é a metáfora central do romance. O sertão é retratado não apenas como um lugar geográfico, mas também como um espaço simbólico de desafio, transformação e busca de sentido. Riobaldo, em sua longa jornada, questiona a moralidade, a fé e a natureza humana, culminando em sua conclusão de que “o sertão é dentro da gente”.
A obra é considerada uma das mais complexas da literatura brasileira e universal, justamente pela sua estrutura não linear, suas reflexões profundas e pela experimentação linguística que Guimarães Rosa utiliza para descrever a vida no sertão e os dilemas existenciais de Riobaldo.