A fábula “A Coruja e o Gavião” narra o encontro entre duas aves de hábitos e naturezas muito diferentes: a coruja, símbolo da sabedoria e da observação noturna, e o gavião, conhecido por sua agilidade e agressividade durante o dia. A história se inicia quando os dois resolvem firmar um pacto de amizade e respeito mútuo, prometendo não atacar os filhotes um do outro.
O gavião, curioso, pergunta à coruja como poderá reconhecer seus filhotes, já que nunca os viu antes. A coruja responde com vaidade, dizendo que seus filhotes são os mais belos de todos e que, ao vê-los, o gavião os identificará de imediato pela beleza incomparável. Confiante, ela acredita que sua descrição é suficiente para proteger os filhos.
Passam-se alguns dias, e o gavião encontra alguns filhotes feios, de aparência desajeitada, escondidos em um tronco de árvore. Sem saber que se tratam dos filhotes da coruja, e julgando-os comuns e sem valor, ele os devora, certo de que não está quebrando o acordo.
Quando a coruja retorna ao ninho e encontra os filhotes desaparecidos, fica profundamente abalada e parte em busca do gavião. Ao confrontá-lo, o gavião responde que apenas seguiu a orientação dada: não comer os filhotes belos da coruja. Como não viu nenhuma ave bonita, acreditou que os filhotes não eram dela.
A fábula, então, revela sua moral principal: o amor de uma mãe pode tornar cegos os olhos da razão. A coruja via seus filhos como belos porque os amava, enquanto o gavião, que os viu com frieza e objetividade, não os achou nada notáveis. Essa diferença de perspectiva leva à tragédia.
Esopo, com sua linguagem simples e direta, utiliza o contraste entre o instinto materno e a lógica do predador para mostrar como o amor pode distorcer o julgamento. A coruja falhou ao confiar demais em sua própria visão, sem perceber que os outros não compartilhariam da mesma percepção.
Além disso, a fábula alerta sobre os perigos da comunicação ambígua. A descrição subjetiva da coruja foi inútil como aviso, e sua confiança excessiva na própria perspectiva resultou na perda dos filhotes. Esopo sugere que clareza e objetividade são essenciais, especialmente quando se trata de acordos e promessas.
Por fim, “A Coruja e o Gavião” é uma reflexão sobre como nossas emoções podem comprometer nossa prudência, e sobre como a falta de empatia entre diferentes mundos – o da coruja e o do gavião – pode gerar consequências irreversíveis. A lição permanece atual: o amor cega, e a sabedoria precisa ser acompanhada de humildade.