“Agosto”, de Rubem Fonseca, é um romance policial histórico ambientado no Brasil de 1954, durante o mês crucial em que o presidente Getúlio Vargas se suicidou. A obra mistura ficção e fatos reais, explorando as tensões políticas, conspirações e a atmosfera sombria que antecederam o episódio que abalou o país.
O protagonista é o comissário Alberto Mattos, um policial honesto e introspectivo, encarregado de investigar um assassinato aparentemente banal. À medida que a investigação avança, Mattos se vê envolvido em uma teia de corrupção, violência e interesses políticos que atravessam os bastidores do poder.
Rubem Fonseca constrói uma narrativa densa e multifacetada, entrelaçando o enredo fictício com personagens e eventos históricos reais, como Carlos Lacerda, Gregório Fortunato e a crise no Catete. A morte do major Vaz, atentado contra Lacerda e a pressão sobre Vargas compõem o pano de fundo da trama.
O autor retrata com realismo a tensão social da época, a repressão policial e a falência das instituições democráticas. A angústia de Mattos, que sofre de úlceras e vive um relacionamento conturbado, funciona como reflexo das dores do país, preso entre forças antagônicas.
A investigação leva Mattos a mergulhar no submundo da política e da violência urbana, revelando como o poder se sustenta por meio de alianças sujas, chantagens e assassinatos. Cada nova pista desvela a podridão que sustenta o Estado e mostra que não há inocentes.
O romance critica duramente as estruturas de poder e a hipocrisia da elite política brasileira, sem poupar nenhum lado. A figura de Vargas é construída com nuances: um presidente acuado, dividido entre resistir e ceder, cercado por lealdades duvidosas e pressões incontroláveis.
Ao longo da trama, Mattos perde suas últimas ilusões sobre justiça. O suicídio de Getúlio Vargas, no final do livro, funciona como um clímax simbólico: o desfecho de um país em colapso moral e institucional. A famosa “carta-testamento” é reproduzida e ecoa como testamento também da própria nação.
Rubem Fonseca, com sua prosa seca e precisa, cria uma atmosfera sufocante e ao mesmo tempo fascinante. “Agosto” não é apenas um romance policial, mas um retrato contundente da história brasileira, onde o crime e a política se confundem e o herói não triunfa.
No fim, “Agosto” é um mergulho profundo na alma de um Brasil conflituoso. Com seu estilo duro e realista, Rubem Fonseca nos convida a refletir sobre o passado – e sobre o quanto ele ainda ressoa no presente. A obra é considerada um dos grandes romances políticos da literatura nacional.