O Retrato de Dorian Gray, escrito por Oscar Wilde, é uma das obras mais emblemáticas do final do século XIX e um marco do esteticismo. O romance narra a história de Dorian Gray, um jovem de beleza incomparável que se torna obcecado pela própria aparência. Influenciado pelo hedonista Lord Henry Wotton, Dorian deseja permanecer eternamente jovem enquanto seu retrato envelhece em seu lugar. O pedido é misteriosamente atendido, e a partir daí sua vida toma rumos sombrios. Wilde utiliza essa trama para discutir a vaidade, a moralidade e a corrupção da alma.
Dorian, fascinado pela juventude e pela beleza, mergulha em uma vida de excessos e prazeres. Enquanto seu rosto permanece imaculado, o retrato esconde os sinais de decadência moral causados por seus atos. Essa dualidade simboliza a hipocrisia social e o culto à aparência que dominavam a era vitoriana. Oscar Wilde critica a superficialidade da sociedade e o preço da busca incessante pela perfeição. A arte, para o autor, reflete a verdade que os olhos humanos não querem ver. O retrato torna-se o espelho da consciência de Dorian.
À medida que os anos passam, Dorian se distancia da empatia e da moral, cometendo atos cruéis sem remorso. O retrato, porém, torna-se cada vez mais horrível, revelando as marcas de sua degradação espiritual. A obra expõe a ideia de que ninguém escapa das consequências de suas ações, mesmo que externamente pareça intacto. A corrupção interna de Dorian é um reflexo do egoísmo e da decadência moral que Wilde via em sua época. O contraste entre juventude e corrupção é um dos temas centrais do livro.
Lord Henry Wotton representa o pensamento estético e niilista, pregando que o prazer é o único propósito da vida. Ele é uma figura sedutora que influencia profundamente Dorian, conduzindo-o ao abismo da vaidade e do egoísmo. Basil Hallward, o pintor do retrato, simboliza a pureza e a consciência artística. Sua devoção a Dorian é sincera, mas acaba sendo destruída pela transformação moral do jovem. O triângulo entre Dorian, Henry e Basil sintetiza o conflito entre ética, estética e hedonismo.
A escrita de Oscar Wilde é marcada pelo brilho da ironia e pela densidade filosófica. O autor constrói diálogos refinados, repletos de aforismos que questionam os valores da sociedade. Cada frase carrega uma crítica à moralidade vitoriana e ao conservadorismo da época. Wilde mostra que a arte e a beleza, embora sublimes, podem ser armadilhas fatais quando colocadas acima da ética. Assim, o romance transcende o tempo e permanece atual em sua crítica ao materialismo e à aparência.
O retrato, como símbolo central, representa a alma de Dorian e a inevitabilidade do tempo. Enquanto o quadro apodrece, o protagonista tenta desesperadamente manter sua juventude intocada. Essa metáfora reflete a vaidade humana e o medo da morte. O retrato torna-se um castigo, lembrando-o constantemente de sua corrupção. A relação entre aparência e essência é explorada com profundidade psicológica, tornando a obra uma das mais complexas da literatura moderna.
No clímax do romance, Dorian, atormentado pela culpa e pela feiura do retrato, decide destruí-lo. Ao cravar uma faca na pintura, ele sela o próprio destino: o quadro recupera sua beleza original, e Dorian morre envelhecido e deformado. A cena final simboliza o triunfo da verdade sobre a ilusão. Wilde mostra que é impossível escapar do julgamento moral e das consequências de uma vida guiada pelo egoísmo. O retrato, nesse sentido, cumpre o papel de juiz silencioso.
O Retrato de Dorian Gray é uma reflexão sobre a condição humana e os limites da busca pela perfeição. Oscar Wilde convida o leitor a pensar sobre a vaidade, a ética e o poder destrutivo do narcisismo. O livro revela que a beleza sem virtude é apenas uma máscara frágil que oculta a decadência interior. Sua mensagem permanece relevante em uma sociedade ainda obcecada pela imagem e pela juventude. Com maestria, Wilde eternizou a luta entre aparência e moralidade.

