A obra O Menino no Espelho, de Fernando Sabino, apresenta uma narrativa encantadora e nostálgica sobre a infância e suas descobertas. O autor revisita sua própria juventude em Belo Horizonte, transportando o leitor para um universo de ingenuidade, imaginação e curiosidade. O protagonista, um menino sonhador, vê no espelho não apenas o seu reflexo, mas um companheiro que o ajuda a explorar o mundo com inocência e encantamento. Através dessa metáfora, o autor reflete sobre o autoconhecimento e as transformações que o crescimento impõe.
O livro é permeado por lembranças que mesclam realidade e fantasia, mostrando como a mente de uma criança pode transformar o cotidiano em aventura. O menino, em sua busca por compreender o mundo, cria situações mágicas para explicar o que o cerca, revelando o poder criativo da imaginação. Fernando Sabino conduz o leitor com leveza e humor, recriando episódios simples que ganham profundidade por meio do olhar sensível da infância. Essa mistura entre o real e o imaginário é o que dá vida à narrativa.
O espelho surge como um símbolo central da obra, representando o diálogo entre o ser e o outro, entre o que se é e o que se deseja ser. Ao ver seu reflexo, o menino encontra um amigo fiel, alguém que o entende e o acompanha em suas aventuras solitárias. Essa relação metafórica ressalta a dualidade entre a inocência e a descoberta do eu, que se torna uma das reflexões mais profundas do livro. O espelho é, portanto, o ponto de partida para a formação da identidade.
Entre as passagens mais marcantes, estão as aventuras que o menino vive ao lado dos colegas, as brincadeiras de rua e as pequenas travessuras que definem sua personalidade curiosa e ousada. Fernando Sabino constrói cenas repletas de ternura, mostrando como o aprendizado e o erro caminham lado a lado na formação do ser humano. Cada episódio traz uma lição sutil, refletindo o olhar de quem, já adulto, relembra com carinho os passos que moldaram sua trajetória.
O tom nostálgico da narrativa é equilibrado por uma escrita fluida e repleta de humor. Sabino transforma as experiências simples da infância — o primeiro medo, o primeiro desafio, o primeiro ato de coragem — em momentos universais. Assim, o leitor se reconhece nas emoções do protagonista, percebendo que a criança descrita no livro é, de alguma forma, a representação da infância de todos nós. Essa universalidade é o que torna a obra tão comovente e atemporal.
Outro aspecto importante do livro é a relação entre o menino e os adultos, marcada por uma distância simbólica que reflete o contraste entre o mundo da fantasia e o da razão. O protagonista tenta compreender as regras impostas pelos mais velhos, mas muitas vezes as subverte, guiado por sua própria lógica infantil. Essa tensão entre liberdade e autoridade se repete em várias situações, mostrando como o amadurecimento é, inevitavelmente, um processo de perda da inocência.
A escrita de Fernando Sabino é marcada por simplicidade e poesia, qualidades que tornam o livro acessível a leitores de todas as idades. O autor equilibra emoção e reflexão, conduzindo o leitor a enxergar a infância como uma fase sagrada, onde o aprendizado acontece através da descoberta espontânea. O Menino no Espelho é, portanto, uma celebração da imaginação e da memória, que resgata o valor das pequenas coisas e das lições que o tempo não apaga.
No desfecho, o protagonista já não enxerga no espelho o mesmo reflexo, mas um eco distante de sua inocência perdida. O menino cede lugar ao homem, mas a lembrança daquele companheiro imaginário permanece viva como símbolo da pureza interior. O livro termina com um convite à reflexão sobre o que deixamos para trás ao crescer e sobre a importância de preservar o olhar curioso e poético da infância. Assim, Fernando Sabino entrega uma obra profundamente humana e eterna.