O Silmarillion, escrito por J.R.R. Tolkien e publicado postumamente por seu filho Christopher Tolkien, é uma obra que reúne os mitos e lendas que formam a base do universo da Terra-média. Diferente da narrativa de O Senhor dos Anéis, este livro apresenta uma estrutura mais próxima de uma cosmogonia, explorando a criação do mundo, a origem dos povos e os grandes acontecimentos que moldaram a história antes da era dos hobbits.
A narrativa inicia com a criação do universo por Eru Ilúvatar, a divindade suprema, que através de uma música cósmica dá forma ao mundo. Os Ainur, seres angelicais criados por Ilúvatar, participam dessa melodia, mas a discórdia de Melkor, um dos mais poderosos, introduz o mal na criação. Essa tensão entre harmonia e caos se torna o eixo central dos eventos que virão.
Um dos elementos mais importantes do livro são as Silmarils, três joias criadas pelo elfo Fëanor, que aprisionam a luz original das duas Árvores de Valinor. A beleza e o poder dessas joias desencadeiam guerras, traições e tragédias entre elfos, homens e outros povos, tornando-se o símbolo da ambição e da perda.
A queda de Melkor, também conhecido como Morgoth, e sua luta constante contra os povos da Terra-média são narradas com grandiosidade épica. Ele busca controlar as Silmarils e espalhar sua sombra pelo mundo, arrastando consigo inúmeros personagens que, em meio a heroísmo e fraquezas, vivem destinos marcados pela luta entre luz e trevas.
O livro também introduz a linhagem de personagens que terão papel essencial nas obras futuras, como os homens que mais tarde darão origem aos reis de Númenor e, posteriormente, a linhagem de Aragorn. Assim, O Silmarillion funciona como um pano de fundo indispensável para compreender os desdobramentos narrados em O Hobbit e O Senhor dos Anéis.
A obra mistura poesia, mitologia e história em uma narrativa densa, que exige atenção do leitor. Mais do que uma sequência de histórias, ela funciona como uma mitologia fictícia que Tolkien criou para dar profundidade e verossimilhança ao seu universo. É um trabalho de construção literária único, comparável às grandes epopeias da Antiguidade.
O Silmarillion não apenas apresenta batalhas e feitos heroicos, mas também reflete sobre temas universais como a ganância, a corrupção, a fidelidade e a esperança. Esses elementos tornam a obra não só uma introdução à Terra-média, mas também uma reflexão sobre a condição humana a partir de um universo fantástico.
Com sua narrativa grandiosa e simbólica, O Silmarillion reafirma o talento de J.R.R. Tolkien como criador de mundos. Ele construiu uma mitologia que, além de sustentar sua obra mais famosa, se consolidou como uma das mais ricas criações literárias do século XX, encantando gerações de leitores apaixonados por fantasia.