“Quincas Borba” é um dos principais romances de Machado de Assis, publicado em 1891. A obra marca a fase realista do autor e dá continuidade à crítica social e psicológica iniciada em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. O livro gira em torno de Rubião, herdeiro da fortuna e da filosofia de um excêntrico personagem: Quincas Borba.
Rubião é um modesto professor em Barbacena, que conhece Quincas Borba, um filósofo doido que lhe deixa uma herança considerável e a guarda de seu cão, também chamado Quincas Borba. O legado material vem junto com a missão de preservar a filosofia do Humanitismo, doutrina absurda criada por Borba.
O Humanitismo prega que tudo o que acontece é em nome da “Humanidade”, e que os conflitos, mesmo os mais brutais, são justificados se resultarem em ganho para o coletivo. A célebre frase “Ao vencedor, as batatas” resume esse pensamento. Rubião, ingênuo, adota a filosofia sem compreender sua ironia.
Ao mudar-se para o Rio de Janeiro com a herança, Rubião é introduzido à alta sociedade e acaba sendo explorado por Cristiano Palha e sua esposa Sofia. Apaixonado por Sofia, Rubião alimenta esperanças românticas enquanto vai, pouco a pouco, sendo ludibriado financeiramente.
A crítica machadiana à hipocrisia social se intensifica à medida que Rubião mergulha em delírios e se descola da realidade. Sua ingenuidade, sua ilusão de amor e sua fé cega no Humanitismo o tornam uma figura trágica e patética, manipulada por interesses alheios.
O romance também é uma crítica ao cientificismo da época e às doutrinas sociais e filosóficas que se multiplicavam no século XIX. O Humanitismo parodia sistemas como o positivismo e o darwinismo social, mostrando como ideias, mal interpretadas ou absolutizadas, podem ser perigosas.
Rubião acaba enlouquecendo, retornando à condição de desvalido e morrendo pobre, enquanto aqueles que o exploraram permanecem socialmente respeitáveis. A ironia de Machado é corrosiva: o “vencedor” Rubião não fica com as batatas — perde tudo, inclusive a razão.
A figura de Quincas Borba, embora morta desde o início, é constante como fantasma filosófico. O cão que carrega seu nome simboliza a permanência absurda do Humanitismo na vida de Rubião, mesmo diante do fracasso prático dessa filosofia.
Com ironia fina, estrutura engenhosa e personagens ambíguos, “Quincas Borba” é um retrato ácido da sociedade brasileira do século XIX, mas também um estudo atemporal sobre poder, vaidade, ilusão e loucura.