“A Hora dos Ruminantes”, de José J. Veiga, é uma obra de realismo fantástico que explora temas de opressão e autoritarismo através de uma atmosfera enigmática e surreal. A história se passa na pequena cidade fictícia de Manarairema, onde a chegada repentina de forças misteriosas transforma a rotina dos habitantes, mergulhando-os em uma realidade dominada pelo medo e pela incerteza.
A trama começa com a chegada de caminhões carregados de bois que invadem a cidade, sem qualquer explicação. Os animais se tornam uma presença estranha e perturbadora, como se fossem sinais de uma ameaça maior. Com o tempo, outros eventos inexplicáveis ocorrem, incluindo a instalação de soldados desconhecidos que controlam a cidade de maneira opressiva, sem revelar suas intenções ou identidade. Os moradores, sem poder reagir, são obrigados a se adaptar à nova ordem, vivendo sob constante vigilância e censura.
A narrativa de José J. Veiga é marcada por um clima crescente de tensão e inquietação, onde o autor constrói uma crítica à repressão política e social. O mistério que envolve os invasores e a impossibilidade de confrontá-los revelam uma metáfora para regimes autoritários, que sufocam a liberdade individual e coletiva. A impotência dos cidadãos de Manarairema reflete a fragilidade dos direitos humanos quando confrontados com o poder arbitrário e implacável.
À medida que a trama avança, o silêncio e a passividade dos ruminantes — os bois — tornam-se símbolos da conformidade, sugerindo que a opressão prospera em um ambiente de apatia e medo. A cidade, que antes era um lugar tranquilo e pacato, é tomada pelo caos e pelo absurdo, transformando-se em uma prisão a céu aberto. Os personagens são obrigados a lidar com a perda de controle sobre suas vidas, enquanto a opressão se torna mais insidiosa e abrangente.
“A Hora dos Ruminantes” é uma obra carregada de simbolismo, que faz uma reflexão profunda sobre as dinâmicas de poder e submissão. A escrita de Veiga é concisa e sugestiva, criando um ambiente onde o inexplicável se mistura com o cotidiano, levando o leitor a questionar a natureza do poder e o papel da resistência em tempos de repressão. Com uma linguagem simples e ao mesmo tempo rica em significado, o livro revela as consequências devastadoras da opressão e da indiferença diante da injustiça.