A obra Provas no Processo Civil, escrita por Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, integra a prestigiada coleção de estudos processuais dos dois juristas e dedica-se a um dos temas mais centrais do direito processual: a atividade probatória. O livro sistematiza os princípios, regras e técnicas que norteiam a produção, admissibilidade e valoração da prova, sempre sob a ótica do Código de Processo Civil de 2015 e da doutrina contemporânea.
No início, os autores discutem a teoria geral da prova, abordando conceitos fundamentais como o objeto da prova, a finalidade probatória e a distinção entre fatos que precisam e não precisam ser provados. Explicam que apenas os fatos controvertidos e relevantes para o deslinde da causa demandam instrução probatória, ao passo que fatos notórios, confessados ou presumidos por lei dispensam prova. Essa exposição inicial serve como base para toda a análise subsequente.
Em seguida, Didier Jr. e Carneiro da Cunha exploram os princípios da prova, destacando o contraditório, a comunhão da prova, a lealdade processual e a livre apreciação motivada do juiz. Para eles, a prova deve ser compreendida dentro de um sistema que busca equilíbrio entre o direito das partes de demonstrar suas alegações e o dever do magistrado de fundamentar racionalmente sua decisão.
Um ponto central da obra é a distribuição do ônus da prova. Os autores explicam o modelo tradicional, em que ao autor incumbe provar os fatos constitutivos de seu direito, e ao réu, os fatos impeditivos, modificativos ou extintivos. Contudo, destacam que o CPC/2015 introduziu a possibilidade da distribuição dinâmica do ônus da prova, permitindo ao juiz redistribuí-lo conforme as peculiaridades do caso, especialmente quando uma das partes enfrenta dificuldade excessiva em produzi-la.
O livro dedica capítulos específicos às espécies de provas: documental, testemunhal, pericial, depoimento pessoal, confissão, inspeção judicial e prova emprestada. Em cada modalidade, os autores analisam requisitos de admissibilidade, procedimentos e limites de valoração. Um cuidado especial é dado à prova pericial, onde se discutem a imparcialidade do perito, a importância dos assistentes técnicos e a forma como o juiz deve lidar com conclusões técnicas.
Outro tema relevante tratado na obra é a prova digital e tecnológica, reconhecendo os desafios contemporâneos da instrução probatória. Didier Jr. e Carneiro da Cunha analisam a validade de e-mails, mensagens instantâneas, gravações e demais documentos eletrônicos, ressaltando a importância da cadeia de custódia e da autenticidade digital como requisitos para evitar fraudes e garantir segurança jurídica.
O livro também aborda a fase de instrução e os poderes do juiz na condução da prova. Os autores reconhecem a centralidade do magistrado, mas enfatizam a necessidade de respeito ao contraditório e à imparcialidade, evitando-se a figura de um “juiz investigador”. Ressaltam que, embora o juiz possa determinar a produção de provas de ofício, deve fazê-lo apenas de forma subsidiária, para suprir lacunas e assegurar decisão justa.
No campo da valoração da prova, Didier Jr. e Carneiro da Cunha analisam a regra da persuasão racional, que substitui o sistema de prova legal. O juiz não está vinculado a hierarquias formais entre meios de prova, mas deve justificar, de forma lógica e fundamentada, as razões pelas quais acolhe ou rejeita determinados elementos probatórios. A obra reforça que a motivação é requisito essencial da decisão judicial e constitui garantia constitucional.
Por fim, os autores concluem que o estudo da prova é inseparável da efetividade do processo e da própria justiça da decisão. Para Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, compreender a dinâmica probatória é essencial para a advocacia, para a magistratura e para todos os que atuam no processo civil. O livro, assim, cumpre papel não apenas acadêmico, mas também prático, sendo leitura indispensável para quem deseja aprofundar-se em um dos temas mais complexos e determinantes do direito processual civil.