A Muralha , de Dinah Silveira de Queiroz, publicada em 1954 pela editora José Olympio, é um romance histórico escrito para comemorar os 400 anos da fundação de São Paulo. Originalmente serializado na revista O Cruzeiro , o livro tornou-se um best-seller, traduzido para idiomas como japonês, coreano, inglês e alemão, e adaptado para TV, rádio e quadrinhos. Ambientado no século XVIII, durante o período colonial brasileiro, o romance retrata a vida dos bandeirantes, a busca pelo ouro e a Guerra dos Emboabas, com foco nas mulheres que sustentavam as famílias enquanto os homens desbravavam o sertão. O título refere-se à Serra do Mar, uma barreira natural entre o litoral e a vila de São Paulo de Piratininga. A seguir, apresento um resumo em 9 parágrafos, mantendo um estilo narrativo fluido, conforme suas instruções.
A história começa com Cristina, uma jovem portuguesa romântica que chega ao Brasil para se casar com seu primo Tiago Olinto, filho do bandeirante Dom Braz Olinto. Ao desembarcar, ela enfrentou a primeira decepção: Tiago não a espera no porto, e a travessia da Serra do Mar, a “muralha” do título, é árdua, marcada por trilhas perigosas e a hostilidade da mata. Cristina, formada nos costumes europeus, sente o peso do choque cultural ao chegar à Lagoa Serena, a propriedade dos Olinto, onde encontra uma família moldada pela vida colonial, com hábitos rudes e uma dinâmica patriarcal.
Dom Braz, o patriarca, é um bandeirante ambicioso, cuja vida é dedicada à exploração do sertão e à caça de indígenas, práticas que o romance retrata com certo ufanismo, mas também com nuances críticas. Sua esposa, Mãe Cândida, é uma matriarca de pulso firme, responsável por administrar a casa e manter a ordem na ausência dos homens. A narrativa destaca o papel dessas mulheres, como Cândida, Margarida e Basília, que enfrentaram a solidão, gerenciaram fazendas e desafiaram as expectativas de submissão, um aspecto inovador para a literatura dos anos 1950.
Cristina, inicialmente deslumbrada por suas fantasias românticas, enfrenta a indiferença de Tiago, um jovem introspectivo mais interessado em astronomia do que no casamento. A relação dos dois é tensa, marcada por desencontros e pela dificuldade de Cristina em se adaptar à vida colonial. Enquanto tenta encontrar seu lugar, ela observa as mulheres ao seu redor: Margarida, uma sonhadora que escreve apesar das críticas, e Basília, prática e resiliente, que lida com as demandas do cotidiano sem depender dos homens.
O romance entrelaça a vida doméstica com eventos históricos, como a Guerra dos Emboabas (1708-1709), um conflito entre paulistas e forasteiros pela posse das minas de ouro em Minas Gerais. A narrativa descreve a violência do período, incluindo o massacre do Capão da Traição, onde mulheres paulistas, segundo a autora, incitaram os homens a vingar os mortos. Dinah Silveira de Queiroz, descendente do bandeirante Carlos Pedroso da Silveira, reconstrói episódios com riqueza de detalhes, mas a ênfase nas mulheres como protagonistas da resistência é o que distingue a obra.
A paisagem colonial é um elemento central, descrita com vivacidade: a mata fechada, os rios traiçoeiros e a vila de São Paulo, ainda um povoado modesto, ganham vida na prosa fluida de Dinah. A autora capta os costumes da época — as festas, a religiosidade, a escravização de indígenas — com um olhar que, embora romantize os bandeirantes, não ignora a brutalidade de suas ações. A presença de personagens indígenas, como Aimbé, é limitada, e a narrativa reflete a visão eurocêntrica da época, algo que os críticos modernos apontam como uma lacuna.
As mulheres do romance desafiam as convenções patriarcais, ainda que dentro dos limites do seu contexto. Cristina, por exemplo, resiste à apatia de Tiago, buscando afirmar sua identidade em um ambiente hostil. Margarida, que escreve em segredo, enfrenta o preconceito contra mulheres letradas, enquanto Isabel, uma figura mais subversiva, desafia normas de feminilidade, embora sua história seja menos explorada. Esses personagens, com seus “altos e baixos”, como descreve uma revisão, são o coração da obra, mostrando a força feminina em um mundo dominado pelos homens.
A Guerra dos Emboabas e as bandeiras estruturaram uma narrativa, mas o foco permanece na vida íntima da família Olinto. A tensão entre os personagens — como o conflito entre a autoridade de Dom Braz e a independência de Mãe Cândida — reflete as dinâmicas de poder da sociedade colonial. A prosa de Dinah, elogiada por sua fluidez, mergulhando o leitor no mundo, com segurança que evoca tanto a beleza quanto a violência do Brasil seiscentista.
O romance culmina com a resolução parcial dos conflitos de Cristina, que, apesar das desilusões, encontra força para enfrentar sua nova realidade. A narrativa não oferece resultados felizes e simplistas, mas celebra a resiliência das mulheres que, como Cristina, transpõem “muralhas” físicas e simbólicas. A obra, premiada com a Medalha Imperatriz Leopoldina e o Prêmio Machado de Assis, consolidou Dinah como uma voz pioneira, especialmente por destacar o papel feminino na colonização, um tema então negligenciado.
Em resumo, A Muralha é um romance histórico vibrante que combina aventura, crítica social e uma perspectiva feminina inovadora. Dinah Silveira de Queiroz recria o Brasil colonial com personagens complexos e uma narrativa envolvente, celebrando a coragem das mulheres em um período de violência e transformação. Apesar de suas limitações, como a romantização dos bandeirantes, o livro permanece um marco da literatura brasileira, resgatado por novas edições e adaptações, como a minissérie da Globo em 2000.