O Amanuense Belmiro , de Cyro dos Anjos, publicado em 1937, é um romance brasileiro de cunho psicológico e introspectivo, considerado uma obra-prima da literatura nacional. Narrado em primeira pessoa, em formato de um diário, o livro acompanha um ano (1935) na vida de Belmiro Borba, um funcionário público de 38 anos, solteiro, que vive em Belo Horizonte. A obra, que nasceu de crônicas publicadas no jornal A Tribuna , explora a melancolia, os conflitos internos e a mediocridade da vida burocrática, contrapondo a riqueza da vida interior de Belmiro à banalidade de seu cotidiano. Comparado a Machado de Assis e até Dom Quixote por sua ironia e lirismo, o romance é um marco do modernismo brasileiro. A seguir, apresento um resumo em 9 parágrafos curtos, mantendo um estilo narrativo fluido e conciso, conforme suas instruções.
Belmiro Borba, amanuense da Seção de Fomento Animal do Ministério da Agricultura, é um “velho profissional da tristeza”. Aos 38 anos, vive com duas irmãs idosas em Belo Horizonte, imerso em uma rotina monótona. Ele inicia um diário, hesitando entre memórias, romance ou reflexões, buscando dar sentido à sua existência vazia, marcada por sonhos não realizados e uma nostalgia da infância em Vila Caraíbas.
A narrativa, longe do regionalismo dominante dos anos 1930, foca na introspecção. Belmiro, um anti-herói lírico, reflete sobre sua incapacidade de agir, preso entre o desejo de viver intensamente e a inércia. Sua vida interior, cheia de “abismos insondáveis”, contrasta com a trivialidade de sua profissão, que “não fomenta coisa alguma, senão o meu lirismo”, como ele ironiza.
Durante o carnaval de 1935, Belmiro vê Carmélia Miranda, uma jovem que desperta um amor platônico. Ele a idealiza como “donzela Arabela”, ligando-a a uma paixão infantil, mas nunca declara seus sentimentos. Esse amor inalcançável, segundo Roberto Schwarz, simboliza sua tendência a fugir da realidade, preferindo sonhos à ação.
Belmiro interage com um grupo eclético de amigos, que enriquecem o romance. Jandira, uma mulher independente, desafia o conservadorismo; Redelvim, um anarquista lírico, o confronto com questões sociais; Silviano, um filósofo católico, inspira reflexões metafísicas; e Florêncio, sem conflitos, oferece anedotas. Esses personagens, descritos com humor sofisticado, refletem o profundo da urbanização brasileira.
Eventos como uma breve prisão por suspeitas de comunismo e uma viagem ao Rio de Janeiro, onde Belmiro vê Carmélia partir para a lua de mel, rompem a monotonia. No entanto, ele permanece passivo, incapaz de mudar o seu destino. Sua escrita, segundo Antônio Cândido, revela um “sentimento poético” único, distinguindo-o de Machado de Assis, apesar das comparações.
O romance critica a estagnação da sociedade brasileira, capturando a transição do mundo rural para o urbano. Belmiro, um “fazendeiro do ar”, encarna a imobilidade de uma classe média que anseia pelo novo, mas se agarra ao passado. A prosa de Cyro, elegante e irônica, transforma o trivial em universal, como elogiado por Carlos Drummond de Andrade.
A estrutura de diário, com capítulos curtos, reflete o conflito temporal de Belmiro, preso entre um passado idealizado e um presente insosso. Inspirado por Henri Bergson, o romance explora a subjetividade do tempo, onde passado e presente se misturam, confinando Belmiro em uma “gaiola temporal”, conforme análise de Jardim e Gusmão.
O desfecho, sem spoilers, mostra Belmiro chegando a um “acordo com a vida”, aceitando sua condição com resignação poética. A obra, segundo Adolfo Casais Monteiro, oferece “uma melodia” rara, tocando o íntimo do leitor. Com 293 páginas, publicadas por José Olympio, é um clássico subestimado, com avaliações de 4,2/5 no Goodreads .
Em resumo, O Amanuense Belmiro é um retrato brilhante da alma de um burocrata sonhador, cuja sensibilidade contrasta com a mediocridade de sua vida. Cyro dos Anjos, com prosa lírica e irônica, cria uma obra atemporal sobre a condição humana, essencial para quem aprecia a literatura psicológica e o modernismo brasileiro.