O romance Tubarão, escrito por Peter Benchley, é um thriller que combina suspense, terror e crítica social em uma narrativa intensa e claustrofóbica. A história se passa na fictícia ilha de Amity, uma comunidade litorânea dos Estados Unidos que vive essencialmente do turismo de verão. Tudo muda quando um enorme tubarão-branco começa a atacar banhistas, mergulhando a cidade em pânico e medo.
Logo no início da obra, a primeira vítima do tubarão é descoberta, e o chefe de polícia Martin Brody é chamado para investigar. Apesar das evidências claras de um ataque, as autoridades locais, pressionadas por interesses econômicos, preferem minimizar o perigo para não prejudicar a temporada turística. Essa tensão entre segurança pública e lucro se torna um dos principais conflitos do enredo.
À medida que os ataques se repetem, Brody insiste em fechar as praias, mas enfrenta resistência do prefeito e de empresários locais. O medo começa a se espalhar entre os moradores e visitantes da ilha, que já não conseguem aproveitar o verão com tranquilidade. A insistência em manter o turismo em funcionamento transforma a negligência das autoridades em cumplicidade com o perigo.
Para lidar com a ameaça, um excêntrico caçador de tubarões chamado Quint é contratado. Junto com Brody e Matt Hooper, um jovem oceanógrafo, eles formam um trio improvável que parte para o mar em uma missão arriscada de caçar o predador. Essa parte do livro representa uma virada narrativa, onde o suspense psicológico dá lugar à ação direta e ao confronto entre homem e natureza.
Durante a caçada, surgem conflitos pessoais entre os três personagens, especialmente entre Quint e Hooper. Esses atritos evidenciam diferenças de classe, ciência versus instinto, e formas distintas de encarar o perigo. Benchley constrói essas interações com maestria, tornando a convivência no barco tão tensa quanto o próprio embate com o tubarão.
O tubarão, por sua vez, é descrito com frieza e objetividade, o que torna sua presença ainda mais aterrorizante. Ele não é um monstro mitológico, mas um animal real, impiedoso e imprevisível. Essa escolha narrativa contribui para a sensação de que o perigo é natural e inevitável, e não algo sobrenatural. A natureza se impõe de forma violenta, e o ser humano, fragilizado, precisa enfrentá-la com inteligência e coragem.
Ao longo do livro, a crítica de Benchley ao consumismo e à irresponsabilidade institucional se torna evidente. O autor usa o tubarão como metáfora dos perigos ignorados por ganância ou conveniência. A cidade de Amity, símbolo da América suburbana e turística, revela sua hipocrisia e fragilidade diante da ameaça, tornando-se parte do problema.
O desfecho da obra é dramático e catártico. Sem entrar em detalhes que estraguem a experiência do leitor, é possível dizer que o final consagra a luta do homem comum contra forças que o ultrapassam. Mais do que uma simples história de ataque de tubarão, Tubarão é um estudo sobre o medo coletivo, os dilemas éticos e os limites da racionalidade em tempos de crise.
Com ritmo ágil, personagens bem desenvolvidos e um clima de tensão constante, Peter Benchley criou um clássico do suspense moderno. Tubarão não apenas marcou gerações de leitores como também foi eternizado no cinema, mas sua versão literária mantém um charme próprio, mais sombrio e crítico, que merece ser redescoberto.