“A Invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick, é uma obra singular que funde literatura e arte de forma inovadora, criando uma narrativa visual e textual envolvente. Lançado originalmente em 2007, o livro não é apenas uma história, mas uma experiência sensorial, onde imagens e palavras se entrelaçam para contar a jornada emocionante de um garoto órfão na Paris dos anos 1930.
Hugo Cabret é um menino que vive escondido nos bastidores de uma estação de trem, mantendo os relógios funcionando após o desaparecimento de seu tio alcoólatra. A trama gira em torno de um misterioso autômato — uma figura mecânica que Hugo tenta consertar, acreditando que ela guarda uma mensagem deixada por seu falecido pai. Essa missão se torna o ponto de partida de uma descoberta muito maior, que envolve o cinema, a invenção e a memória.
A narrativa se destaca por sua estrutura inovadora: ao longo de suas mais de 500 páginas, quase metade é composta por ilustrações em grafite criadas pelo próprio Selznick. As imagens não apenas acompanham o texto — elas contam partes inteiras da história, criando uma sensação de filme mudo em papel. Essa estética cinematográfica dialoga diretamente com um dos temas centrais da obra: a história do cinema e a homenagem ao cineasta Georges Méliès.
Ao longo da leitura, os leitores descobrem que o velho vendedor de brinquedos da estação é, na verdade, o próprio Georges Méliès, retratado de forma ficcional, mas baseada em sua trajetória real como um dos pioneiros da sétima arte. A ligação entre Hugo e Méliès é construída com delicadeza e emoção, revelando a importância da arte, da memória e da invenção na formação da identidade.
A obra também trata da solidão e da busca por pertencimento. Hugo é um menino perdido no mundo, buscando um lugar e uma missão. A amizade que ele constrói com Isabelle, afilhada de Méliès, e a descoberta de seu talento e propósito são representações da jornada clássica do herói, reimaginada em um contexto sensível e mágico.
Brian Selznick oferece um tributo à imaginação e ao poder transformador das histórias. “A Invenção de Hugo Cabret” não é apenas um livro infantil ou juvenil — é uma obra universal, capaz de tocar leitores de todas as idades, especialmente os apaixonados por literatura, arte e cinema.
A edição é rica em detalhes: o projeto gráfico é primoroso, e a encadernação valoriza o aspecto de “objeto artístico” do livro. Ao folheá-lo, sente-se a mesma reverência que Hugo demonstra pelas engrenagens do autômato ou pelos rolos de filme de Méliès. A obra convida à contemplação, ao encantamento e à reflexão.
Além de seu sucesso editorial, o livro foi adaptado para o cinema em 2011 pelo diretor Martin Scorsese, no filme “A Invenção de Hugo Cabret”, vencedor de cinco Oscars. A adaptação trouxe ainda mais visibilidade à história, mantendo o espírito de homenagem ao cinema e às engrenagens do sonho.
Com sua sensibilidade rara e sua forma inovadora de contar histórias, “A Invenção de Hugo Cabret” reafirma o poder da narrativa como um elo entre o passado e o futuro, entre o real e o imaginário. Uma leitura obrigatória para todos que acreditam na magia dos livros e das imagens.