O livro “A Ética da Advocacia: Entre o Direito e a Moral”, escrito por Roberta Resende, propõe uma reflexão profunda sobre os limites e responsabilidades éticas da advocacia contemporânea. A autora examina as tensões entre o papel legal do advogado e suas obrigações morais diante da sociedade, questionando até que ponto é possível – ou desejável – separar técnica jurídica de consciência ética.
Logo no início da obra, Roberta Resende contextualiza o papel histórico da advocacia, apontando como o exercício da profissão se tornou, ao longo do tempo, um instrumento tanto de defesa da justiça quanto de perpetuação de desigualdades. Essa ambiguidade inicial serve como base para a discussão posterior sobre a legitimidade dos atos praticados sob o manto da legalidade.
A autora defende que o advogado não pode se eximir da reflexão moral simplesmente porque atua dentro dos limites da lei. O cumprimento das normas jurídicas não é, por si só, suficiente para garantir uma conduta ética. É nesse ponto que o livro propõe o diálogo entre ética profissional e valores morais individuais, com base em casos concretos que envolvem dilemas reais da prática forense.
Um dos temas centrais é a diferença entre ética deontológica (vinculada a códigos e normas da profissão) e ética pessoal (ligada às convicções e valores íntimos do sujeito). Roberta Resende argumenta que o advogado ético é aquele que consegue articular essas duas dimensões com responsabilidade, sem ceder ao automatismo técnico nem cair em subjetivismos absolutos.
Outro aspecto importante abordado na obra é o poder do advogado como agente de transformação social. Ao representar interesses, o advogado pode optar por reforçar estruturas opressoras ou contribuir para a construção de um direito mais justo e democrático. Essa escolha, segundo Resende, é sempre ética, ainda que esteja disfarçada de “estratégia profissional”.
A autora também analisa situações controversas, como a defesa de réus sabidamente culpados, a omissão de informações prejudiciais ao cliente e a atuação em causas que ferem valores coletivos. Em todos esses casos, Roberta Resende propõe que a ética do advogado deve ser guiada por princípios como dignidade, verdade e responsabilidade, mesmo quando isso implique desconforto ou impopularidade.
No plano institucional, a obra questiona a eficácia dos códigos de ética da OAB, sugerindo que eles muitas vezes se limitam a fórmulas genéricas e não acompanham os desafios complexos do mundo jurídico atual. A autora defende uma ética mais reflexiva, capaz de dialogar com os dilemas contemporâneos da prática advocatícia e do contexto social.
Além da análise teórica, “A Ética da Advocacia: Entre o Direito e a Moral” oferece estudos de caso, exemplos práticos e reflexões filosóficas que ampliam o horizonte de leitura, tornando o livro útil tanto para advogados experientes quanto para estudantes de direito. Roberta Resende mostra que a ética não é um “extra” da profissão, mas sim seu núcleo vital.
Por fim, a obra convida o leitor à autorreflexão. Roberta Resende não apresenta respostas prontas, mas provoca o questionamento: o que significa ser um advogado ético em um mundo marcado por injustiças estruturais? Entre o direito e a moral, entre o interesse do cliente e o bem comum, a advocacia deve escolher não apenas o que é permitido, mas o que é certo.