C. S. Lewis apresenta, em Cristianismo Puro e Simples, uma reflexão profunda sobre os fundamentos da fé cristã, voltada para um público amplo, inclusive para quem não tem convicções religiosas firmes. O autor busca explicar o cristianismo de forma racional, acessível e honesta, sem impor doutrinas, mas convidando à reflexão. A obra teve origem em uma série de palestras transmitidas no rádio durante a Segunda Guerra Mundial, o que reforça seu tom direto e urgente. Lewis propõe que a moralidade universal presente em todas as culturas aponta para uma Verdade maior: a existência de um Deus pessoal.
No início do livro, Lewis discute a Lei Moral, presente no coração humano, como evidência da presença de um Criador. Ele argumenta que essa lei não é fruto da sociedade ou da educação, mas algo que transcende o ser humano. Para o autor, o fato de todos possuírem uma noção de certo e errado indica que fomos criados com essa consciência moral. Ele mostra que, embora todos conheçam essa lei, ninguém a cumpre perfeitamente. Isso, segundo Lewis, evidencia a necessidade de redenção.
O autor desenvolve a ideia de que o ser humano está em rebelião contra Deus, afastado da fonte do bem e da verdade. O cristianismo, então, surge como a única resposta coerente ao dilema humano, pois oferece reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo. Lewis destaca que Jesus não pode ser apenas um bom mestre moral — suas afirmações o colocam como louco, mentiroso ou realmente o Filho de Deus. Essa tríade se tornou um dos argumentos mais discutidos da teologia cristã moderna.
A salvação é outro tema central na obra. Para Lewis, o cristianismo não se resume a boas ações, mas à transformação interior proporcionada pela fé em Cristo. O autor rejeita a ideia de uma religião de méritos, enfatizando que é a graça divina que salva, não o esforço humano. Ele ilustra essa mudança interior como uma espécie de nova criação, onde o ego humano é gradualmente substituído pela vida de Cristo em nós. Essa transformação é um processo contínuo e não um evento isolado.
Em suas explicações, Lewis mostra que o cristianismo oferece respostas não apenas religiosas, mas existenciais. Ele afirma que a fé cristã dá sentido ao sofrimento, à morte e à moralidade. Ao invés de apresentar uma fé cega, o autor utiliza argumentos filosóficos e racionais para defender a razão da esperança cristã. Lewis também valoriza o uso da imaginação e do pensamento lógico para compreender as verdades divinas, tornando a fé uma experiência intelectual e espiritual.
Outro aspecto abordado por Lewis é a importância da comunidade cristã. Ele defende que viver o cristianismo não é possível de forma isolada, pois o crescimento espiritual se dá na convivência e no amor ao próximo. A Igreja, embora imperfeita, é o corpo de Cristo na Terra e deve ser instrumento de transformação. Lewis reforça que a fé cristã se manifesta em atitudes práticas, como perdão, humildade e generosidade.
O autor ainda se dedica a explicar como o cristianismo se relaciona com outras crenças e visões de mundo. Ele reconhece que há elementos de verdade em outras religiões, mas insiste que a revelação plena de Deus se dá em Jesus Cristo. Para Lewis, a fé cristã é mais que uma crença religiosa — é uma explicação da realidade. Ele acredita que aceitar o cristianismo é como acordar de um sonho e enxergar o mundo como ele realmente é.
Ao concluir a obra, Lewis deixa claro que o cristianismo não é uma proposta fácil, mas verdadeira. Seguir a Cristo exige renúncia do ego, entrega total e uma vida moldada pelo amor divino. A transformação proposta pelo evangelho vai além da moralidade: trata-se de uma nova identidade em Cristo. Ele convida o leitor a dar esse passo de fé, não por pressão ou medo, mas por uma resposta livre ao chamado de Deus. O livro permanece como uma das maiores defesas da fé cristã no século XX.