Publicado em 1979 , O Livro do Riso e do Esquecimento de Milan Kundera é uma obra que mistura romance, ensaio filosófico e reflexão histórica. Estruturado em sete partes interligadas , o livro explora temas como identidade, repressão política, e a fragilidade do passado . A narrativa se passa principalmente na Tchecoslováquia comunista e acompanha personagens que enfrentam as consequências do esquecimento imposto pelo regime.
O primeiro episódio narra a história de Mirek , um dissidente político que tenta recuperar antigas cartas de amor que escreveram para Zdena. Ele acredita que apagar essa parte de sua história será útil para redefinir sua identidade. No entanto, essa reflexão reflete um tema central do livro: a impossibilidade de apagar o passado , seja na vida pessoal ou na história de um país.
Em outra parte, Kundera apresenta Tamina , uma mulher exilada que deseja recuperar os cadernos com memórias de seu marido falecido, deixados na Tchecoslováquia. Sua jornada simboliza o desejo de preservar lembranças em um mundo onde o esquecimento é imposto de forma brutal. O destino de Tamina se torna cada vez mais surreal, refletindo o caráter onírico e filosófico do livro.
O autor também discute a história de um grupo de jovens que desafiam as normas do regime ao viverem uma liberdade despreocupada, dançando nus e rindo. Esse riso rebelde representa um ato de resistência contra o totalitarismo, mas ao mesmo tempo expõe a vulnerabilidade desses jovens diante do poder opressor.
Um dos momentos mais marcantes do livro é uma reflexão sobre o “esquecimento organizado”. Kundera mostra como os regimes totalitários manipulam a memória coletiva, apagando figuras políticas da história e reescrevendo narrativas. Ele usa o exemplo de uma foto de Vladimír Clementis , um político tcheco que foi apagado das imagens oficiais após cair em desgraça com o Partido Comunista.
Outro personagem, Jan , vive uma crise existencial e filosófica, refletindo sobre como as pessoas tentam escapar do peso do passado por meio do esquecimento voluntário. Ele se envolve em encontros superficiais e busca no riso uma forma de anestesiar suas angústias. No entanto, Kundera sugere que o riso pode ter dois significados: um que liberta e outro que vingança.
A relação entre riso e poder aparece em várias passagens. O autor argumenta que o riso pode ser uma arma contra a opressão, mas também pode ser usado para ridicularizar e desumanizar. O próprio ato de rir se torna um símbolo da fragilidade humana diante das forças da história.