O livro “Drive”, de James Sallis, narra a história de um homem conhecido apenas como Driver, cuja vida se divide entre duas atividades bem distintas: de dia, ele trabalha como dublê de cenas perigosas em filmes; à noite, é motorista de fuga para criminosos. Ele é um homem de poucas palavras, extremamente profissional e meticuloso no que faz.
A narrativa não segue uma linha cronológica tradicional. O enredo é fragmentado, alternando passado e presente, revelando gradualmente quem é esse homem silencioso, como ele se tornou o que é e quais eventos o conduziram à sua vida de riscos e solidão.
Desde a infância, Driver foi marcado por um ambiente familiar desestruturado, com ausências, violências e negligências. A direção surge cedo como uma forma de escapar, tanto fisicamente quanto emocionalmente, de sua realidade difícil. A habilidade ao volante se torna sua identidade e sua única âncora.
Na vida adulta, ele se estabelece em Los Angeles e rapidamente se destaca como dublê, graças às suas habilidades excepcionais em manobras arriscadas. Paralelamente, começa a prestar serviços para criminosos, dirigindo com precisão cirúrgica em fugas milimetricamente calculadas.
Tudo muda quando uma de suas operações dá errado. O Driver, acostumado a cumprir suas regras — nunca se envolver, nunca perguntar, nunca ultrapassar o tempo combinado —, acaba sendo traído. A partir daí, a história assume contornos de vingança e sobrevivência.
O tom do livro é sombrio, quase existencial. James Sallis constrói um protagonista que, mais do que um herói ou vilão, é um homem guiado por códigos próprios, vivendo à margem da sociedade, onde o senso de justiça é pessoal e frequentemente violento.
Driver é movido não por dinheiro ou glória, mas pela busca incessante de controle em um mundo caótico. A direção não é apenas seu trabalho — é sua forma de estar no mundo, sua maneira de existir, de se manter em movimento para não encarar seus próprios fantasmas.
O estilo de escrita é econômico, direto e muitas vezes poético. Sallis evita longas descrições e opta por frases curtas, que dão ao texto uma velocidade compatível com a vida do protagonista. A tensão é constante, e o clima de perigo é palpável em cada página.
“Drive”, de James Sallis, é muito mais do que um thriller sobre carros e fugas. É um estudo sobre solidão, identidade e escolhas. A obra convida o leitor a refletir sobre o preço que se paga por viver nas sombras, onde não há espaço para arrependimentos, apenas para seguir em frente — sempre dirigindo.