“Na Natureza Selvagem”, escrito por Jon Krakauer, narra a fascinante e trágica história real de Christopher McCandless, um jovem norte-americano que abandonou sua vida confortável para buscar liberdade total na natureza. Após se formar com honras na universidade, McCandless doou todas as suas economias, cortou laços com a família e embarcou em uma jornada solitária pelos Estados Unidos, culminando em sua morte no Alasca, em 1992.
O livro é uma investigação jornalística, mas também um ensaio pessoal. Krakauer intercala trechos da aventura de McCandless com entrevistas, cartas, diários e reflexões próprias. O autor busca entender os motivos que levaram o jovem a abrir mão do conforto burguês e enfrentar a natureza selvagem sem preparo adequado, guiado apenas por ideais e livros de autores como Tolstói, Thoreau e Jack London.
Desde o início, McCandless demonstra uma profunda insatisfação com a sociedade de consumo e com a hipocrisia da vida familiar. Ele adota o nome Alexander Supertramp e decide viver de forma autêntica, em contato direto com a terra, recusando bens materiais, segurança e convenções sociais. Sua escolha radical atrai tanto admiração quanto críticas.
Durante sua jornada, McCandless atravessa diversos estados, conhecendo pessoas que impactam sua trajetória: agricultores, hippies, andarilhos e um senhor idoso chamado Ron Franz, com quem desenvolve uma ligação comovente. Apesar de sua recusa em criar vínculos permanentes, McCandless deixa marcas profundas por onde passa, mostrando empatia, inteligência e um idealismo intenso.
A parte final do livro foca na sua decisão de viver isolado nas florestas do Alasca. Sem equipamentos adequados, com poucos suprimentos e dependendo da caça e coleta, McCandless subestima os perigos da natureza. Sua experiência se transforma gradualmente de libertadora em trágica. Ele fica preso pela cheia de um rio e acaba morrendo sozinho em um ônibus abandonado, provavelmente por intoxicação alimentar.
Krakauer constrói um retrato delicado e sem julgamento de McCandless. Em vez de taxá-lo como imprudente ou herói, o autor analisa a complexidade do jovem: seu desejo de pureza, sua busca espiritual, seus conflitos familiares e o confronto entre idealismo e realidade. Em muitos aspectos, o autor se vê refletido na figura de McCandless, o que confere ao livro uma camada de introspecção.
A obra também discute temas amplos, como o romantismo da natureza, a juventude rebelde, o individualismo americano e o fascínio pelo despojamento. Ao evocar paralelos com outras histórias reais de pessoas que desapareceram em aventuras similares, Krakauer insere McCandless em uma tradição de errantes, inquietos e buscadores.
A linguagem do livro é envolvente, mesclando reportagem investigativa com momentos de poesia e filosofia. As descrições das paisagens, das emoções e dos encontros são intensas e humanas, levando o leitor a refletir sobre o sentido da liberdade, da felicidade e da conexão com o mundo.
“Na Natureza Selvagem” é mais do que a história de um jovem solitário. É um mergulho nos anseios humanos por autenticidade, ruptura e transcendência. Com sensibilidade e rigor, Jon Krakauer transforma a trajetória de Christopher McCandless em um espelho dos sonhos e perigos da alma moderna.