“O Ateneu”, romance de Raul Pompéia publicado em 1888, é uma das obras-primas do naturalismo brasileiro. Escrito em forma de memórias, o livro narra a trajetória de Sérgio, um menino que ingressa num colégio interno — o Ateneu — e, a partir disso, enfrenta um duro processo de amadurecimento e perda da inocência.
Logo no início, Sérgio é advertido por seu pai: “Vais encontrar o mundo, meu filho. Coragem para a luta.” Essa frase funciona como um presságio da transformação radical que o protagonista vivenciará dentro do colégio. Ele entra no internato cheio de sonhos, idealizando um ambiente de aprendizado e virtude, mas rapidamente se depara com a hipocrisia e a dureza da vida adulta.
O colégio, dirigido pelo rígido e autoritário Aristarco, é retratado como uma miniatura da sociedade burguesa da época. Ali, Sérgio convive com regras severas, competição intelectual, vaidades, privilégios e injustiças. O ambiente é de tensão constante, onde o mérito acadêmico muitas vezes esconde intrigas e falsidades.
Ao longo da narrativa, Sérgio passa por diversos conflitos emocionais e morais. Ele desenvolve amizades intensas e ambíguas, como com o sensível Egbert, e enfrenta as primeiras desilusões amorosas, inclusive com mulheres adultas que circulam pelo colégio. As experiências afetivas sugerem descobertas sexuais e afetivas sutis, marcadas por repressão e ambiguidade.
A crítica à educação elitista e ao autoritarismo é uma das marcas mais fortes da obra. O Ateneu não forma cidadãos livres e conscientes, mas sim indivíduos moldados pela disciplina e pela aparência. Raul Pompéia denuncia a decadência moral disfarçada de sofisticação intelectual que prevalecia na sociedade do final do século XIX.
Com uma prosa densa e irônica, Raul Pompéia utiliza o narrador em primeira pessoa para dar tom de confissão à narrativa. Sérgio revisita seu passado com amargura e lucidez, oferecendo ao leitor uma reflexão amarga sobre a passagem da infância à vida adulta, marcada por perdas, frustrações e ilusões desfeitas.
A destruição do colégio por um incêndio no final da obra representa a ruptura definitiva com a infância e com as falsas promessas do mundo adulto. O fogo, simbólico, purifica e encerra o ciclo vivido por Sérgio, selando sua entrada num mundo mais cruel e menos idealizado.
Além da crítica social e educacional, “O Ateneu” é também uma obra de formação interior. A transformação de Sérgio é dolorosa, mas necessária. Ele deixa para trás não apenas a inocência, mas também as ilusões que o impediam de enxergar a realidade tal como ela é.
“O Ateneu”, de Raul Pompéia, permanece atual por retratar com maestria os conflitos da juventude, a opressão das instituições e a fragilidade humana diante das convenções sociais. Um retrato profundo do amadurecimento forçado por uma sociedade rígida e hipócrita.