Na antiga tradição oral dos povos latino-americanos, “O Macaco e a Guitarra” sobrevive como uma fábula esquecida, passada de geração em geração entre os contadores de histórias das montanhas andinas e das florestas tropicais. A narrativa traz um ensinamento poderoso sobre vaidade, talento e o verdadeiro valor da humildade.
A história começa com um macaco que, ao passear pelo vilarejo humano, encontra uma guitarra abandonada em uma feira. Fascinado pelo brilho do instrumento e por sua forma elegante, decide levá-la para a floresta. O macaco, vaidoso por natureza, imagina que se tornará o animal mais admirado de toda a selva se aprender a tocar.
Sem saber sequer como afiná-la, o macaco começa a dedilhar as cordas aleatoriamente, produzindo sons desagradáveis. Ainda assim, ele convence os outros animais de que está compondo uma nova música revolucionária. A curiosidade e o medo de parecerem ignorantes fazem com que todos finjam gostar da “arte” do macaco.
O pavão, o tucano e o jaguar elogiam a “performance” do macaco, temendo se tornar alvo de zombarias. Apenas uma coruja idosa, conhecida por sua sabedoria, se aproxima calmamente e diz que a guitarra exige estudo, sensibilidade e paciência — virtudes que o macaco nunca cultivou. Ele a ignora com arrogância.
Empolgado com sua fama momentânea, o macaco organiza um grande concerto na clareira central da floresta. Animais de todos os cantos comparecem, ansiosos para ver o tão comentado show. Mas, quando o macaco começa a tocar, o barulho estridente e descompassado provoca risos, vaias e, por fim, o abandono da plateia.
Humilhado, o macaco foge para o alto de uma árvore e se recusa a descer por dias. Lá, ele reflete sobre o que aconteceu. A visita da coruja, dias depois, é decisiva. Ela não o repreende, mas lhe oferece ajuda. Ensina-lhe os primeiros acordes, os fundamentos do ritmo e da melodia. Pela primeira vez, o macaco ouve antes de tentar se exibir.
Com o tempo, ele descobre que tocar guitarra é mais do que parecer talentoso: é ouvir, praticar e aceitar os próprios limites. O som antes dissonante se transforma em algo harmonioso. Pouco a pouco, os animais voltam a ouvi-lo — agora com sinceridade e respeito, não por vaidade ou medo.
O final da fábula mostra o macaco, agora mais humilde, ensinando os filhotes de animais a tocar instrumentos feitos de madeira e cipó. Ele aprendeu que o verdadeiro valor da arte está na dedicação e no compartilhar, não no aplauso fácil. A guitarra, símbolo de vaidade no início, torna-se símbolo de transformação.
“O Macaco e a Guitarra” é uma fábula esquecida, mas profundamente atual, que ecoa os valores latino-americanos de coletividade, respeito à sabedoria dos mais velhos e crítica à ostentação vazia. Uma história simples, mas carregada de significado para todas as idades.