Publicado postumamente em 1947, Contos Novos reúne alguns dos textos mais densos, introspectivos e sofisticados de Mário de Andrade, autor fundamental do modernismo brasileiro. Diferente do tom vanguardista e irreverente de obras como Macunaíma, os contos aqui revelam um Mário mais maduro, reflexivo e profundamente preocupado com os dilemas da existência, a condição humana e os contrastes sociais do Brasil.
Nesta coletânea, Mário de Andrade se afasta da experimentação formal escancarada e mergulha em uma linguagem mais contida, mas ainda fortemente poética e marcada por sua sensibilidade literária. Os personagens são, muitas vezes, figuras anônimas da cidade, imersos em solidões, fracassos, medos e pequenas epifanias cotidianas. A cidade de São Paulo — tão importante na vida e obra do autor — é cenário recorrente e quase personagem.
Histórias como “Atrás da Catedral de Ruão”, “Frederico Paciência” e “O Peru de Natal” são alguns dos contos mais emblemáticos do livro, onde o autor trabalha com temas como a morte, a memória, a incomunicabilidade e o desencanto. Em “O Peru de Natal”, por exemplo, Mário de Andrade traça um retrato tocante da dor do luto e da hipocrisia das convenções sociais, tudo a partir do olhar de um jovem diante da ausência do pai recém-falecido em meio às celebrações natalinas.
O título Contos Novos pode parecer paradoxal, pois muitas histórias foram escritas anos antes da publicação e carregam um forte senso de melancolia e encerramento. Mas esse “novo” é também uma indicação do caminho estético e filosófico que Mário percorria nos últimos anos de vida — mais voltado ao existencialismo, à dúvida e à interiorização. É um livro de maturidade e silêncio, onde o humor dá lugar à tensão e ao questionamento profundo.
Contos Novos é uma obra essencial não apenas para compreender o autor em sua totalidade, mas também para entender os rumos da prosa moderna brasileira. Em seus breves textos, Mário de Andrade prova que a genialidade literária também pode habitar os gestos contidos, as palavras calculadas e as emoções sugeridas. É um livro comovente e sutil, que mostra um dos maiores escritores brasileiros em sua fase mais introspectiva e humana.