Tutela Coletiva dos Direitos Difusos , de Ada Pellegrini Grinover, é uma obra seminal no estudo do Direito Processual Coletivo brasileiro, publicada em 1984 pela editora Max Limonad. Escrita por uma das mais renomadas processualistas do Brasil, a obra aborda a proteção jurisdicional dos direitos difusos — aqueles de natureza indivisível, pertencentes a uma coletividade indeterminada, como os relacionados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patrimônio cultural. Grinover, pioneira na introdução do conceito de tutela coletiva no Brasil, analisa os instrumentos processuais, como a ação civil pública, e os desafios de adaptar o sistema jurídico às demandas de uma sociedade de massa. A seguir, apresento um resumo em 9 parágrafos, mantendo um estilo narrativo fluido, conforme suas instruções.
O livro começa contextualizando a emergência dos direitos difusos na sociedade contemporânea, marcada por conflitos de massa decorrentes da industrialização, urbanização e consumo em larga escala. Grinover destaca que esses direitos, por sua natureza transindividual, desafiam os modelos tradicionais de processo civil, centrados na tutela de interesses individuais. Ela aponta a influência dos estudos italianos dos anos 1970, especialmente de Mauro Cappelletti, que inspiraram sua visão de um processo coletivo como ferramenta de acesso à justiça para coletividades.
A autora examina a evolução legislativa no Brasil, com foco na Lei da Ação Popular (Lei 4.717/1965) e na Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985), que se constituem pilares da tutela coletiva. Grinover explica como a reforma de 1977 da Lei da Ação Popular abriu caminho para a proteção de interesses difusos, enquanto a Lei 7.347/1985 consolidou a ação civil pública como instrumento para defender direitos como o meio ambiente e o consumidor. Ela enfatizou o papel do Ministério Público como legitimado para propor essas ações, ampliando o acesso à justiça.
Um dos pontos centrais da obra é a distinção entre direitos difusos, coletivos e indivíduos homogêneos. A Grinover define os direitos difusos como aqueles de titularidade indeterminada e indivisível, como a proteção de um rio contra poluição. Essa categorização, influenciada pelo direito comparado, é crucial para entender os limites e possibilidades da tutela jurisdicional. A autora argumenta que os direitos difusos excluem um processo coletivo diferenciado, com regras próprias que superem as limitações do processo individual.
Grinover analisa os desafios processuais da tutela coletiva, como a legitimação, a coisa julgada e a representatividade adequada. Ela discute a necessidade de legitimados ativos, como o Ministério Público e associações, que atuam em nome da coletividade, e propõe que a coisa julgada nas ações coletivas tenha efeitos erga omnes para garantir a eficácia das decisões. O autor também abordou a dificuldade de identificar os beneficiários dos direitos difusos, apresentou soluções baseadas na flexibilidade processual.
A obra destaca a importância de um microssistema processual coletivo, que integra leis como o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) e a Lei 7.347/1985. Grinover defende a autonomia do Direito Processual Coletivo, com princípios próprios, como a máxima efetividade e a instrumentalidade, diferentes do processo civil clássico. Ela enxerga nesse sistema uma resposta à “crise de direito”, que exige categorias jurídicas adaptadas aos conflitos de uma sociedade industrial.
A autora também explora o impacto social e político da tutela coletiva, que transcende a mera resolução de litígios. Ações civis públicas, por exemplo, mobilizam a sociedade e promovem o controle de políticas públicas, como a proteção ambiental. Grinover vê a tutela coletiva como um instrumento de cidadania, capaz de democratizar o acesso à justiça e fortalecer a solidariedade social, especialmente para grupos vulneráveis.
Um aspecto inovador do livro é a proposta de um Código Brasileiro de Processos Coletivos, que Grinover desenvolveu em anteprojetos posteriores. Ela argumenta que a fragmentação legislativa dificulta a aplicação da tutela coletiva e defende a criação de um marco normativo unificado, inspirado em modelos de civil law e common law . Essa visão reflete sua preocupação com a efetividade prática das ações coletivas no Brasil.
Grinover não ignora os desafios práticos, como a resistência de juízes e operadores do Direito a adotar o processo coletivo, devido à sua novidade e complexidade. Ela critica a atitude individualista do judiciário brasileiro da época e propõe a capacitação de magistrados para lidar com os especialistas das ações coletivas, como a gestão de conflitos de massa e a valorização de provas em direitos difusos.
Em resumo, Tutela Coletiva dos Direitos Difusos é uma obra visionária que lançou as bases teóricas e práticas do Direito Processual Coletivo no Brasil. Ada Pellegrini Grinover combina análise doutrinária, direito comparado e uma visão humanista para defender a proteção de direitos transindividuais como ferramenta de justiça social. O livro, com sua clareza e profundidade, permanece essencial para compreender a evolução da tutela coletiva e sua importância em um mundo marcado por conflitos coletivos