No conto “A Linha do Horizonte”, Otto Lara Resende constrói uma narrativa marcada pela reflexão sobre o desejo, a perda da inocência e a ilusão da conquista. Com uma escrita sensível e simbólica, o autor conduz o leitor por uma história de crescimento e frustração, onde o horizonte funciona como metáfora daquilo que sempre parece ao alcance, mas nunca é plenamente atingido.
A história gira em torno de um menino que vive fascinado pelo horizonte. Desde pequeno, ele nutre o sonho de alcançá-lo, como se, ao chegar até lá, encontrasse algo mágico, um sentido maior para sua existência. O horizonte, com sua beleza e mistério, representa para ele tudo o que é idealizado, tudo o que ainda está por vir.
Conforme o tempo passa, o menino cresce e transforma esse desejo infantil numa obsessão silenciosa. Ele sente que precisa ir além do que está diante dos seus olhos, como se sua vida só ganhasse significado ao ultrapassar os limites do conhecido. O horizonte deixa de ser apenas uma linha física e se torna o símbolo do seu anseio por transcendência.
Otto Lara Resende trabalha a linguagem de forma delicada, explorando sensações e imagens poéticas. O leitor é conduzido por uma narrativa introspectiva, que não busca reviravoltas dramáticas, mas sim um mergulho na alma do protagonista. Cada passo do menino em direção ao horizonte é também um passo em direção ao autoconhecimento.
Ao tentar se aproximar do horizonte, o personagem descobre que ele sempre se afasta. Quanto mais anda, mais distante ele fica. Essa frustração o atinge profundamente, pois revela a natureza inatingível dos sonhos idealizados. O que antes era promessa de realização agora se torna um lembrete constante da limitação humana.
O conto então revela seu aspecto existencial: a busca pelo horizonte é também a busca por sentido. A caminhada, mais do que o destino, se torna o verdadeiro centro da narrativa. O menino aprende, com o tempo, que o valor da vida não está em alcançar tudo o que se deseja, mas em seguir adiante, apesar da impossibilidade.
Com esse percurso, “A Linha do Horizonte” aborda a passagem da infância para a maturidade. O menino, ao perceber que o horizonte nunca será tocado, entende que crescer é também lidar com a frustração dos desejos. O conto, nesse sentido, fala da perda da inocência e do amadurecimento como parte essencial da experiência humana.
O final da história é melancólico e sereno. O personagem não conquista o horizonte, mas também não desiste dele. Ele passa a olhar para a linha distante com outros olhos — não mais como uma promessa de plenitude, mas como um convite permanente à caminhada, à curiosidade, à esperança.
Otto Lara Resende, com leveza e profundidade, transforma uma metáfora simples em um conto universal sobre os limites do desejo, o tempo e a condição humana. “A Linha do Horizonte” é uma joia da literatura brasileira, que convida o leitor a pensar sobre o que persegue e o que está disposto a aceitar como parte do caminho.