“O Povo Contra Larry Flynt” é um relato provocador e instigante que mistura autobiografia, história judicial e crítica social. Escrito por Larry Flynt, editor da revista pornográfica Hustler, em parceria com Kenneth Anger, o livro retrata a intensa batalha de Flynt contra a censura, a hipocrisia moral e os limites da liberdade de expressão nos Estados Unidos.
Desde a juventude pobre em Kentucky até se tornar um dos nomes mais controversos da indústria pornográfica, Larry Flynt narra sua trajetória com franqueza e sarcasmo. Ele não se esquiva de seus próprios excessos e contradições, mas os apresenta como parte de uma luta maior: o direito de desafiar padrões e provocar o status quo.
O coração da narrativa gira em torno do emblemático processo judicial “The People vs. Larry Flynt”, em que o editor enfrentou acusações de obscenidade, difamação e afronta aos bons costumes. Flynt expõe os bastidores das audiências, os embates com juízes e promotores, e sua complexa relação com o sistema jurídico americano.
Um dos pontos mais marcantes do livro é o confronto com o pastor Jerry Falwell, líder religioso que se sentiu difamado por uma sátira publicada na Hustler. O caso foi parar na Suprema Corte, tornando-se um divisor de águas no debate sobre os limites da liberdade de expressão e o direito à crítica, mesmo quando vulgar ou ofensiva.
Flynt também compartilha os impactos físicos e psicológicos que sofreu após ser baleado por um supremacista branco, em um atentado motivado por um ensaio interracial publicado em sua revista. O episódio o deixou paraplégico e alterou profundamente sua visão de mundo, levando-o a repensar suas atitudes e aprofundar seu ativismo político.
Ao longo do livro, há reflexões sobre moralidade, imprensa, religião e poder. Flynt aponta a seletividade com que a sociedade americana trata a pornografia, tolerando a violência explícita em filmes e mídias, mas censurando conteúdos sexuais. Para ele, essa seletividade expõe uma hipocrisia profundamente enraizada na cultura ocidental.
Kenneth Anger, coautor e cineasta underground, contribui com uma perspectiva estética e subversiva, alinhando a trajetória de Flynt ao espírito rebelde do cinema alternativo americano. Seu olhar ajuda a contextualizar o fenômeno Hustler como mais do que um produto comercial: uma provocação cultural com implicações políticas.
O livro também revela o lado mais humano de Flynt — suas crises pessoais, suas relações familiares e sua capacidade de se reinventar em meio ao caos. Sem se vitimizar, ele reconhece seus erros, mas insiste na importância de lutar pelo direito de incomodar, de falar o que ninguém quer ouvir.
“O Povo Contra Larry Flynt” é, acima de tudo, uma defesa ferrenha da Primeira Emenda da Constituição dos EUA. Mais do que a história de um editor controverso, é um testemunho sobre os perigos de limitar a liberdade de expressão e sobre como a justiça deve proteger até mesmo as vozes mais incômodas em uma sociedade verdadeiramente democrática.