“Jesus, o Libertador” é uma das obras mais emblemáticas do teólogo brasileiro Leonardo Boff, um dos principais representantes da teologia da libertação na América Latina. Publicado originalmente em 1972, o livro propõe uma releitura radical da figura de Jesus de Nazaré, não apenas como uma entidade divina, mas como um ser humano histórico profundamente envolvido com a realidade social e política de seu tempo.
Na visão de Boff, Jesus se apresenta como um profeta libertador, alguém que viveu intensamente as dores e injustiças do povo marginalizado e que escolheu conscientemente colocar-se ao lado dos pobres, excluídos, doentes e oprimidos. Ele denuncia o sistema de dominação do Império Romano, bem como a hipocrisia das lideranças religiosas judaicas que colaboravam com esse sistema de exclusão. Para Boff, o Reino de Deus anunciado por Jesus é um projeto revolucionário de transformação social, fundado na justiça, no amor, na solidariedade e na dignidade de todas as pessoas.
O autor analisa criticamente os Evangelhos, iluminando passagens que revelam a opção preferencial de Jesus pelos pobres e a força libertadora de suas ações e palavras. Boff mostra que o conflito entre Jesus e as autoridades não foi apenas religioso, mas político: sua mensagem ameaçava as estruturas de poder estabelecidas, o que levou à sua condenação e morte na cruz — interpretada por Boff como consequência de seu compromisso com os marginalizados, e não apenas como um destino divinamente pré-ordenado.
A obra também aborda o significado da ressurreição, não como um evento distante e espiritualizado, mas como um símbolo da continuidade do projeto de Jesus na luta por um mundo mais justo. Assim, o Jesus ressuscitado é aquele que vive na comunidade que resiste, que luta, que se organiza para transformar a realidade opressora.
Além do conteúdo teológico, “Jesus, o Libertador” tem uma dimensão pastoral e prática. Boff dialoga com a realidade concreta das comunidades de base e propõe uma espiritualidade engajada, em que fé e ação caminham juntas. A leitura do Evangelho, nessa perspectiva, torna-se uma leitura política e social, um instrumento para despertar a consciência crítica e promover a libertação real das pessoas.
Leonardo Boff escreve com paixão, clareza e profundidade, articulando o pensamento cristão tradicional com os desafios do mundo contemporâneo, especialmente nas regiões marcadas pela miséria, desigualdade e violência estrutural. O livro é uma convocação à ação transformadora, à vivência da fé como resistência, solidariedade e compromisso com os que mais sofrem.
“Jesus, o Libertador” permanece atual e necessário, especialmente em tempos de crise social e espiritual, sendo leitura indispensável para quem deseja unir espiritualidade cristã e justiça social de forma coerente e encarnada.