As Netas de Copacabana, de Lúcia Bettencourt, é uma obra delicada e sensível que retrata a convivência entre três gerações de mulheres da mesma família, tendo como pano de fundo o tradicional bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. A narrativa é centrada na relação entre a avó, a mãe e a neta, oferecendo um olhar íntimo sobre a passagem do tempo, a memória e a herança afetiva entre mulheres.
A protagonista da história é a neta, que visita com frequência a avó idosa, uma mulher de hábitos firmes, marcada por um passado repleto de histórias e tradições. A neta observa, com carinho e atenção, os gestos da avó, seus rituais, suas crenças e seu modo de viver que parece resistir ao tempo e às transformações da cidade ao redor.
A obra apresenta uma escrita lírica, quase poética, que traduz as emoções sutis e os silêncios eloquentes da convivência familiar. Lúcia Bettencourt constrói a narrativa com delicadeza, mesclando memórias com cenas do presente, o que dá à história um tom nostálgico e afetivo, como se cada capítulo fosse um fragmento de lembrança.
A neta, ao mesmo tempo em que admira e respeita a avó, questiona a rigidez de certos valores e visões de mundo herdados. Ela representa uma nova geração que busca compreender suas raízes sem necessariamente repeti-las. O conflito geracional, porém, é retratado com ternura e compreensão, sem antagonismos agressivos, mas como um processo natural de crescimento e diferenciação.
O apartamento em Copacabana, onde vive a avó, funciona como um espaço simbólico: um refúgio do passado em meio à agitação do mundo moderno. Ali, o tempo parece ter outro ritmo. É nesse cenário que se desenvolve a maior parte da narrativa, com suas cortinas pesadas, os objetos antigos e as histórias repetidas que carregam memórias familiares.
Lúcia Bettencourt também destaca o poder da oralidade como forma de preservação da identidade. A avó, ao contar suas histórias e suas crenças, transmite muito mais do que fatos: ela compartilha uma visão de mundo, um modo de amar, sofrer e resistir. A neta, ao ouvir e reinterpretar essas histórias, constrói sua própria identidade.
A figura materna, embora presente com menor intensidade, serve de ponte entre as duas outras gerações. Ela representa um elo frágil, às vezes ausente, mas importante, entre o passado conservador da avó e o olhar moderno da neta. Sua presença ajuda a compor o mosaico afetivo que a autora propõe.
Ao longo do livro, a morte da avó vai se aproximando com sutileza. Quando ela finalmente parte, não há desespero, mas um sentimento de continuidade. A neta compreende que carrega dentro de si não apenas as lembranças, mas também os traços, os gestos e os afetos herdados daquela mulher que tanto observou.
As Netas de Copacabana é, assim, uma celebração da memória feminina, das histórias que moldam quem somos, e do laço invisível que une as mulheres de uma mesma linhagem. Lúcia Bettencourt entrega ao leitor uma obra comovente e profunda, onde cada palavra é carregada de afeto, e onde o cotidiano ganha a beleza daquilo que é eterno: a lembrança.