“O Turista Aprendiz”, de Mário de Andrade, é um marco da literatura de viagens no Brasil e um dos mais ricos documentos sobre a alma e a cultura brasileira. Publicado postumamente, o livro reúne as crônicas, cartas e anotações feitas durante as viagens que o autor realizou principalmente pelo Norte e Nordeste do país entre 1927 e 1929. Mais do que um diário de viagem, a obra é um verdadeiro mergulho antropológico, artístico e afetivo em um Brasil profundo, diverso e muitas vezes esquecido pelas elites do Sudeste.
Mário de Andrade, já consagrado como uma das figuras centrais do Modernismo brasileiro, parte como “turista aprendiz” — ou seja, com a humildade de quem se dispõe a aprender com os lugares e as pessoas por onde passa. Ele não escreve como um turista tradicional, mas como um observador sensível e curioso que registra sons, ritmos, falas, costumes, festas populares, arquitetura, culinária e expressões culturais com um olhar atento e respeitoso.
O livro se destaca por sua linguagem coloquial, viva e cheia de musicalidade — uma marca do estilo modernista. Mário escreve com liberdade, misturando o descritivo ao poético, o erudito ao popular, o dado antropológico ao encantamento pessoal. Em seus relatos, ele narra desde o folclore amazônico até as festas de boi-bumbá, passando por manifestações religiosas, danças, músicas e hábitos cotidianos. O autor também se posiciona criticamente em relação ao descaso do governo com as culturas regionais e denuncia as desigualdades sociais que presencia.
Ao mesmo tempo em que documenta o Brasil com minúcia e beleza, “O Turista Aprendiz” é também um livro sobre o próprio Mário de Andrade — suas inquietações, seus pensamentos sobre arte e política, suas dúvidas existenciais e sua paixão pelo país. Ele mostra como a identidade brasileira está espalhada em suas múltiplas vozes e cores, e como é preciso sair do centro para conhecer as margens e entender o todo.
Esta obra é leitura obrigatória para quem deseja compreender o Brasil de forma mais ampla, não apenas pelos olhos da academia ou da historiografia oficial, mas por meio da sensibilidade de um dos nossos maiores escritores. “O Turista Aprendiz” é uma celebração da diversidade cultural brasileira e um convite permanente à escuta, ao respeito e à descoberta.