“Hadassa: Um Conto de Ester”, de Tommy Tenney e Mark Andrew Olsen, é uma recriação vibrante e profundamente humana da clássica história bíblica da rainha Ester. Com elementos históricos, romance e fé, o livro resgata a essência de uma das narrativas mais impactantes do Antigo Testamento, adaptando-a para leitores modernos em uma linguagem envolvente e cinematográfica. A obra mostra como coragem, propósito e providência divina se entrelaçam no destino de uma jovem judia que se tornaria rainha da Pérsia.
No centro da trama está Hadassa, uma órfã judia criada por seu primo Mordecai, que vive sob o domínio persa em Susa. A personagem é construída com nuances emocionais marcantes: ao mesmo tempo sensível e forte, humilde e destemida. O livro acompanha sua evolução desde uma moça simples e temerosa até se tornar Ester, a mulher que mudaria o destino de um povo inteiro. A transição de Hadassa para Ester é tratada com cuidado, mostrando sua luta interna entre identidade, fé e dever.
A narrativa se inicia com a queda da rainha Vasti, um evento que abre espaço para o concurso real organizado pelo rei Xerxes para escolher uma nova esposa. Hadassa, ainda que relutante, é levada ao harém real. Lá, ela conquista o respeito dos servos e a atenção do rei, não apenas por sua beleza, mas por sua graça, inteligência e dignidade. O romance entre Ester e Xerxes é tratado de forma delicada, mostrando como ela ganha seu coração sem jamais revelar de imediato suas origens judaicas.
Enquanto Hadassa se adapta à vida no palácio, os conflitos políticos se intensificam. O vilão da história, Hamã, ascende ao poder e desenvolve um plano para exterminar todos os judeus do império. O livro explora o clima de tensão crescente, a opressão sofrida pelo povo e a dificuldade de manter a fé em meio ao medo. Hadassa/Ester é então confrontada com o dilema mais difícil de sua vida: manter-se em silêncio para preservar sua posição ou arriscar tudo para salvar seu povo.
A decisão de Ester de se apresentar ao rei sem ser chamada — um ato punível com a morte — é retratada com intensidade emocional e espiritual. O livro descreve sua preparação, seu jejum e sua oração, trazendo à tona o poder da intercessão e da confiança em Deus. Esse é o ponto de virada da trama, onde Ester se revela uma verdadeira heroína bíblica: ousada, resiliente e fiel ao seu propósito.
Os autores entrelaçam elementos históricos com diálogos e cenas fictícias que tornam a leitura cativante. A cultura persa, os costumes da época, a estrutura do palácio, os banquetes e as intrigas da corte são descritos com riqueza de detalhes. Isso dá profundidade ao cenário e realismo aos personagens, tornando o universo de Hadassa palpável ao leitor moderno, sem trair o espírito da narrativa original.
Um dos grandes méritos da obra é mostrar que, mesmo em um ambiente dominado por homens e por estruturas opressoras, a fé e a integridade de uma única mulher podem transformar a história. Hadassa não é retratada como uma heroína idealizada, mas como alguém real, com medo, dúvidas e limitações — e que mesmo assim se levanta em nome do bem coletivo.
Na conclusão do livro, a vitória sobre Hamã e a salvação dos judeus são contadas com emoção e senso de justiça. Hadassa, agora Ester, permanece como símbolo de libertação, sabedoria e entrega. O legado de sua história, que originou a festa de Purim, é reafirmado como um lembrete eterno de que a providência divina pode operar silenciosamente, mesmo quando não é mencionada de forma direta.
“Hadassa: Um Conto de Ester” é uma celebração da força feminina, da fé em tempos de crise e da coragem que transforma destinos. Tommy Tenney e Mark Andrew Olsen entregam uma releitura poderosa, poética e inspiradora de um dos maiores ícones da literatura bíblica. Uma obra que emociona, ensina e permanece viva na memória do leitor muito depois da última página.